sexta-feira, 5 de julho de 2024

do Texto que repito, mas nunca me canso

 





Há pessoas que se anulam por amor.
São como árvores que se despem para que ninguém ao seu redor deixe de ver a luz.
O amor por anulação é um amor que requer perspicácia.
O ente anulado é menos delicioso à vista, menos cativante.
Não raro é amorfo.
Chato.
Mas é.
Amar anulando-se é crescer por ver o brilho do outro.
É resplandecer sem brilhar.
É dar-se por inteiro em parcelas de nada. 
Anular-se e ter prazer é obra.
É abnegação.
É quase como trilhar o caminho sem o pisar e mesm
o assim sentir-lhe o cheiro das flores da berma.
Conseguir quase tocá-las.
É um amor de mãe.
Mas entre iguais.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

da vida, da vidinha e da vidaÇa!


Saí e a porta fechou-se atrás de mim.
Há precisamente três anos, celebrados ontem.
Enquanto lá estive, nunca se fechou.
O hotel vai reabrir, novo, daqui a algum tempo, provavelmente com outro nome e, garantidamente, sem mim.
Cumpri o que disse perante a administração, num dia dos primeiros de Abril de dois mil e vinte, com a pandemia a rugir, que comigo lá a porta não se fecharia. Que as portas dos hotéis não são feitas para estar fechadas. Houve confinamento, houve lockout parcial, mas a porta nunca fechou.
Saiu-me do corpo. Consegui meter mais de dois anos de tempo de trabalho num ano e picos, mas a porta manteve-se aberta.
De um grupo de quinze pessoas, apenas eu acabei no desemprego. Tudo foi acautelado para ser causado o mínimo dano possível à equipa que, uns mais, outros menos, entregou ao hotel muitos anos da sua vida.
Não me é legalmente permitido dizer que pedi para ser despedido e por isso não o vou dizer.
Iniciei no dia um de Julho de dois mil e vinte e um, um período sabático assumido, que no início não tinha data de termo, mas que ao longo do tempo acabei por estabelecer que seria de três anos.
Acabou ontem.
Não que algo tenha mudado, que realmente não mudou, mas o mindset vai passar a ser outro a partir de hoje. 
Entrei em modo soft return. Estou no mercado para, espero que menos, mas nessa impossibilidade, dez anos de trabalho até à reforma.
Nestes três anos que agora terminam, pude acompanhar os últimos meses de vida da minha mãe, apoiando a Elsa em tudo o que fez pela sogra, algo que, por muito que viva, nunca lhe conseguirei agradecer. A minha mãe morreu ao nosso lado, em casa, com a paz que a doença lhe permitiu ter.
Nestes três anos que agora terminam, pude ter a possibilidade de cumprir o sonho de apenas dar formação, mas como se fosse rico: poucos dias por semana.
Nestes três anos que agora terminam, reencontrei-me. Reencontrei-me com a minha família, que é o que de mais importante podemos ter na vida, reencontrei-me com a disponibilidade de tempo para fazer tudo ou, melhor ainda, nada. Reencontrei-me com uma certa desfaçatez perante os tropeções da vida, uma capacidade que perdemos quando ficamos adultos, mas que nunca deveríamos perder porque só essa desfaçatez nos permite manter a magia.
Estou mais velho, mas consegui baixar os triglicéridos em apenas três meses de caminhadas, que nem sequer são diárias.
E tenho uma figueira no quintal, que eu plantei, que é pequenina ainda, mas tem treze figos. 
Eu, que nem acho piada nenhuma a figos.
Mas a Elsa gosta.


sábado, 15 de junho de 2024

do que se aprende, seja ou não útil

 



Durante a Primeira Guerra Mundial, os alemães tinham Valquírias pintadas nos veículos do exército em homenagem a Richard Wagner. 
Alguns regimentos franceses adoptaram como símbolo a imagem de uma vaca a rir-se: "Wachkyrie" para contrapor à "Walküre" dos alemães.
Já depois da Guerra, foi necessário arranjar um nome e uma imagem impactante para um produto inovador, uma pasta composta de vários tipos de queijo provenientes de vários produtores, produzida industrialmente. 
Léon Bel, responsável por encontrar um nome para o produto, lembrou-se das imagens do tempo da guerra e encontrou-o: La Vache Quit Rit.


terça-feira, 11 de junho de 2024

do que de mais importante connosco carregamos

 


A vida pôs finalmente um termo à vida de Françoise Hardy.
A cantora sofria de um cancro na laringe e era uma defensora do suicídio medicamente assistido.
Sofreu até ao fim.
Ninguém merece sofrer quando pretende usar uma alternativa.
Cada ser é dono do seu corpo e deve poder, desde que em posse das suas faculdades, fazer dele o que quiser.
A capacidade de decidir se queremos viver ou morrer ultrapassa a ciência e os dogmas porque é das coisas mais íntimas que carregamos na nossa existência. Mais nenhum animal tem a capacidade de desafiar o instinto de sobrevivência. É uma dádiva da nossa condição.
Decidir se queremos viver ou morrer é um acto individual e, havendo possibilidade de se terminar a vida de forma digna e sem sofrimento desnecessário, não é brincar aos Deuses fazer esse caminho. Brincar aos Deuses é legislar contra o livre-arbítrio em matérias em que não há dano infligido a terceiros.
Vai em paz, Françoise.

"Mes jours comme mes nuits sont en tous points pareils
Sans joies et pleins d'ennuis, oh
Quand donc pour moi brillera le soleil?"

terça-feira, 4 de junho de 2024

do Auto-Plágio, embora não me lembre de ter escrito isto



O poeta não é um domador de palavras, antes um encantador de conceitos, um criador de inconstâncias, um construtor de emoções. O poeta é um espírito desajustado à linha do pensamento, uma pedra que sobe a encosta quando o normal seria descê-la. O poeta é uma linha paralela ao pôr do sol, uma construção sem base fixa, um modelo para o obscuro, uma penumbra para proteger a vida dos choques da realidade inventada pela verdade. O poeta é um doce quando se clama pelo amargo, uma réstea de sol que faz a sombra, a dúvida razoável que nos consome. Sem poetas, o mundo já teria sucumbido.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

do que se faz quando podemos decidir o que queremos fazer no tempo que é nosso



Encostei o carro, com o sol a bater de chofre, fechei os olhos e desfrutei.
O segundo e terceiro actos da peça Frei Luis de Sousa, de Almeida Garrett, difundidos (todos, mas na semana passada já tinha dado o primeiro acto e no primeiro acto não acontece nada de relevante, por isso passemos à frente) pela Antena 2 no âmbito da passagem do centenário do nascimentos da actriz Carmen Dolores.
A peça foi gravada e difundida pela Rádio em cinquenta e tal do século passado, há cerca de setenta anos, portanto. O Ruy de Carvalho encarna a personagem de Manuel de Sousa Coutinho e a Carmen Dolores a de Madalena de Vilhena. O Carvalho teria vinte e tal anos e a Dolores um nadita mais. A peça foi produzida por Jorge Alves, um nome que dirá alguma coisa à mocidade da minha idade porque apresentava o Cartaz Tv na RTP na época em que éramos tão desgraçados que até a programação e o totobola nos deixavam colados à televisão.
A sôdona Madalena de Vilhena, mal suspeitou que o marido (D. João de Portugal) tinha morrido em Alcácer Quibir, viu que não havia pensão de sobrevivência para ninguém, enfiou-se debaixo do Sousa Coutinho, emprenhou e por isso teve que casar com ele.
Tiveram uma filhota, como se diz hoje, que começou cedo a escarrar sangue que nisto do pecado o Garrett não se ensaiava nada em fazer sofrer até as crianças.
Resumindo: o corno não tinha morrido, regressou passados vinte anos, a garota cresceu mas continua tísica, a ex mulher que afinal não era nada ex vestiu o hábito e preparou-se para ir fazer papos de anjo e toucinho do céu para um convento enquanto o Sousa Coutinho andou uns tempos atordoado porque não sabia o que havia de fazer da vida. Afina, era amigo do D João e tinha aproveitado a ausência do amigo para lhe comer a mulher. É dose...
Já não me lembro de como acabou porque ficou muito calor dentro do carro e fui dar um passeio ao ar livre enquanto fazia horas para Mia Bella abrir e ir buscar umas pizzas para o jantar.
Quando regressei ao carro já era o Sibelius que estava a tocar a segunda sinfonia que, consta, era um panfleto contra os russos. Tenho que ir reler o Frei Luis de Sousa para ver o que aconteceu. Li há quarenta anos, mas foi para as aulas e toda a gente sabe que essas leituras não contam.
Tudo isto para dizer que nada há de mais prazeroso que sermos donos do nosso tempo, podermos encostar o carro apenas porque nos apetece ouvir a estória do Frei Luis de Sousa, que arrastou os cornos da Terra Santa até Lisboa.
Um mártir.

sábado, 25 de maio de 2024

do novo mundo que se mexe Discretamente

 



Escrevo isto sem ponta de sarcasmo. É a imagem da nova realidade.
Taylor Swift é a maior estrela da actualidade, isso parece-me um facto.
Será um fenómeno tipo Tony Carreira que tem muita gente nos concertos, mas são sempre os mesmos que o seguem com fidelidade canina ou será mesmo uma estrela planetária?
É que Taylor Swift não passa nas rádios com tanta regularidade como se pensa que poderia passar, nem aparece na televisão (a cantar) as vezes que, aparentemente, merece.
As pessoas da minha idade lembram-se com toda a certeza do "I just call to say I love you", ou do "Nikita" ou do "Still lovin' you" que, de tanto e tantas vezes nos martelarem os tímpanos, entraram no anedotário - isso é que era, para nós, ser uma canção de dimensão planetária.
Hoje, o próprio mundo e um nicho. É tudo mais discreto, mas nem por isso de pequena dimensão.
Em Junho de 2019, o meu filho foi da Mealhada a Los Angeles para assistir a um espectáculo de reencontro, na antiga sede da United Artists, de um grupo que tinha acabado anos antes. Era um grupo que fez carreira apenas no Youtube, mas cujos bilhetes foram disputados à escala planetária. Ainda hoje, se quiser saber o nome do grupo, tenho que ir ao escritório do rapaz ver o poster do show.
Confesso-me incapaz de reconhecer uma música da Taylor Swift, mesmo que ela me atropele na A1. Aliás, foi uma completa surpresa descobrir que tem repertório com qualidade suficiente para manter o estádio da Luz a cantar durante mais de três horas.
Este mundo novo não cessa de me deixar maravilhado.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

do Tom da cinza

 


Não lhe era estranho o aroma. Nem a cor, tampouco lhe rasava a alma sem despertar aquelas coisas que fazem comichão nos sentimentos.
Sentia-se perdido naquela imensidão de gente cinzenta de rosto fechado que caminhava contra ele no passeio. Tudo com os olhos no vazio, quiçá num ponto que aparentava projectar-se nas suas costas, mas que, das vezes que olhara, nunca lhe aparecia.
O dia escorria melancolia pelas laterais dos prédios e cor pelas frontarias das lojas. Cor e calor que vinha de dentro, ou pelo menos parecia, a julgar pelas bochechas rosadas dos meninos, nariz encostado ao vidro, a ver os comboios a pilhas a girarem sobre si mesmos, perseguindo-se como cães perante as caudas esvoaçantes.
Não era a neve que tirava o brilho aos rostos da multidão. Não era a vida, rotinada, viciada na procura de um crescimento que ninguém garante ser alcançado. Nada. A cor fugira para outras paragens. Brilhava como nos anúncios da televisão a correr solta numa praia paradisíaca que poucos conheciam, mas onde vivem pobres que servem os ricos com dinheiro suficiente para lá passarem temporadas. Uma praia com serviço incluído. 
E foi no meio destes pensamentos que tropeçou diante do autocarro depois de ter passado o sinal vermelho para peões sem que uma mão o detivesse ou um grito o alertasse.
Morreu ali.
Cinzento.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

do Retorno ao desconhecido

 






Conheci-os desterrados.
Acabados de chegar.
Traziam nos olhos os tons dos pores do sol na savana.
Os amarelos torrados e os sons do horizonte a perder de vista.
Ocres das terras e azuis que, de tão azuis, feriam os olhos cá por recordarem o que deixaram lá.
Eram diferentes.
Tinham mais mundo.
Muito mais mundo.
Sabiam que o horizonte não morre no mar ali diante dos nossos olhos.
Sabiam que o horizonte é infinito...
Como é infinito o que trouxeram apertado contra o peito e que tanta vez os deve ter feito verter lágrimas iguais às dos outros. Iguais às dos que salgaram o mar que Pessoa cantou.
E nós por cá.
Recentemente libertados.
Orfãos de vida e de sonho.
Tão orfãos que nem sabíamos o que tínhamos deixado de viver. 
Tão orfãos que nos faltava saber como lidar com a liberdade, 
E eles desterrados.
Com frio.
O frio que sentiam nos olhares dos que por cá insistiam em querer acreditar que os treze anos de mortandade que nos ceifaram uma geração se deveram a eles que fugiam - refugiados - empurrados para uma terra onde muitos nunca tinham entrado porque a outra, a dos pores do sol que nunca se esquecem é que é a terra deles.
Mil novecentos e setenta e cinco.
Um ano para lembrar.
E tentar acomodar. 
Enfiar o mundo no buraco de uma agulha.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

da Xaropada mais famosa do mundo

 

(A imagem foi surripiada à Wikipédia)


John Pemberton foi ferido numa perna na Guerra Civil americana e ficou dependente do uso de produtos para combater as dores para o resto da vida.
De regresso a Atlanta, estabeleceu-se como boticário (o que é hoje um farmaceutico) para conseguir ter acesso mais facilitado aos produtos, opiácios e outros, que lhe permitissem atenuar as dores.
Neste mesmo dia, mas em 1886, vendeu na sua botica a primeira dose de um xarope estimulante que inventou e que prometia (e cumpria) uma saúde ferro e muita vitalidade a quem o tomasse.
Assim nasceu a Coca-Cola.
Coca porque tinha efectivamente extracto de folha de coca e cola porque a cafeína do produto provinha da noz de Kola.
A Coca Cola é o produto comercial mais bem sucedido do mundo. 
Começou por ser vendida como xarope ao qual se acrescentava água, depois foi adoçada e passou a ser vendida em cafés e restaurantes onde era servida com água gaseificada, até ser engarrafada e distribuída pelo comércio a partir de 1894.
A expansão pelo mundo aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial ao ser fornecida aos soldados americanos estacionados na Europa e o crescimento da marca nunca mais parou.
Logo a seguir à guerra, já se vendiam mais de quarenta mil garrafas de Coca-Cola por minuto em todo o mundo.
No início do sec. XX, o sucesso do produto tornou-se obvio e nasceram em vários locais dos Estados Unidos vendedores a comercializarem cópias da bebida ou mesmo bebidas originais vendidas com nomes semelhantes e em garrafas semelhantes.
Em face disto, a Coca-Cola resolveu criar uma garrafa única, devidamente patenteada, que pudesse ser reconhecida no escuro ou mesmo em cacos, caso caísse e se partisse.
Acerca da garrafa, existem duas curiosidades históricas, ambas por confirmar, mas deliciosas.
A primeira que diz que a actual garrafa, mais magra que a original criada em 1916 pela Root Glass Company, tem como base as curvas da actriz Mae West e a segunda que diz que a empresa percebeu mal o nome da companhia e pensava que a garrafa se destinava a conter cacau e que por isso a desenhou semelhante a uma noz de cacau.
O que se sabe, e isto é facto, é que a garrafa da coca-Cola é um ícone da cultura pop do seculo XX, tão famosa como o líquido que contém.
E tudo começou com um xarope estimulante inventado por um homem que, actualmente seria, é o mais provável, viciado em oxicodona. 

terça-feira, 7 de maio de 2024

do Pacheco, epistológrafo e comunista, diz-que, que faz hoje anos

Mesmo morto, o Pacheco faz hoje noventa e nove anos.
Oremos.


CÔRO DE ESCARNHO E LAMENTAÇÃO DOS CORNUDOS EM VOLTA DE S. PEDRO


MONÓLOGO DO 1.º CORNUDO
I
Acordei um triste dia
Com uns cornos bem bonitos.
E perguntei à Maria
Por que me pôs os palitos.
II
Jurou por alma da mãe
Com mil tretas de mulher
Que era mentira. Também
Inda me custava a crer...
III
Fiquei de olho espevitado
Que o calado é o melhor
E para não re-ser enganado,
Redobrei gozos de amor.
IV
Tais canseiras dei ao físico,
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços!
V
Esperava por isso a magana?
Já previa o que se deu?...
Do além vi-a na cama
Com um tipo pior do que eu!
VI
Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito...
Sabia daquele mister
Que puxa muito do peito.
VII
Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês:
«O mais certo é práqui vir,
Inda antes que passe um mês».
VIII
Arranjei-lhe um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
(Onde todos vão parar
Embora com muito medo...)
IX
Passava duma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico, tadito!
DUETO DOS 2 CORNUDOS
X
Agora já somos dois
A espreitar de cá de cima
Calados como dois bois
Vendo o que faz a ladina
XI
Meteu na cama mais gente
Um, dois, três... logo a seguir!
Não há piça que a contente
É tudo que tiver de vir!
S. PEDRO, INDIGNADO, PRAGUEJA.
XII
- É de mais!... Arre, diabo!
- Berra S. Pedro, sandeu.
–E mortos por dar ao rabo
Lá vêm eles pró Céu!
CORO, PIANÍSSIMO, LIRISMO
NAS VOZES
XIII
Que morre como um anjinho
Quem morre por muito amar!
CORO, AGORA NARRATIVO
OU EXPLICATIVO.
Já formemos um ranchinho
De cá de cima, a espreitar.
XIV
Passam meses, passa tempo
E a bela não se consola...
Já semos um regimento
Como esses que vão prá Ingola!
(ÁPARTE DO AUTOR DAS COPLAS:
«COITADINHOS!»)
XV
Fazemos apostas lindas
Sempre que vem cara nova.
Cálculos, medidas infindas
Como ela terá a cova.
XVI
Há quem diga que por si
Já não lhe topou o fundo...
Outros juram que era assi
Do tamanho... deste Mundo!
XVII
- Parecia uma piscina!
–Diz um do lado, espantado.
- Nunca vi uma menina
Num estado tão desgraçado!
APARTE DO AUTOR, ANTIGO MILITANTE DAS ESQUERDAS (BAIXAS).
XVIII
(Um estado tão desgraçado?!...
Pareceu-me ouvir o Povo
Chorando seu triste fado
nas garras do Estado Novo!)
XIX
O último que chegou cá
Morreu que nem um patego:
Afogado, ieramá,
Nos abismos daquele pego.
O CORO DOS CORNUDOS,
ACOMPANHADO POR S. PEDRO EM SURDINA,
ENTOA A MORALIDADE, APÓS TER
LIMPADO AS ÚLTIMAS LAGRIMETAS
E SUSPIRANDO COMO SÓ OS CORNUDOS SABEM.
XX
Mulher não queiras sabida
Nem com vício desusado,
Que podes perder a vida
Na estafa de dar ao rabo.
XXI
Escolhe donzela discreta
Com os três no seu lugar.
Examina-lhe a greta,
Não te vá ela enganar...
XXII
E depois de veres o bicho
E as maneiras que tem
A funcionar a capricho,
Já sabes se te convém.
XXIII
Mulher calma, é estimá-la
Como a santa no altar.
Cabra douda, é rifá-la...
- Que não venhas cá parar.
XXIV
Este conselho te dão,
E não te levam dinheiro...
Os cornudos que aqui estão
Com S. Pedro hospitaleiro.
XXV
Invejosos quase todos
Dos conos que o mundo guarda
FAZEM MAIS UM BOCADO DE LAMENTAÇÃO.
NOTA DO AUTOR: QUASE,
PORQUE ENTRETANTO
ALGUNS BRINCAVAM UNS COM OS OUTROS.
RABOLICES!
Mas se fornicas a rodos
Tua vinda aqui não tarda!
RECOMEÇA A MORALIDADE, ESTILO
ESTÃO VERDES, NÃO PRESTAM.
ALGUNS BÊBADOS, CORNUDOS
DESPEITADOS OU AMARGURADOS.
VOZES PASTOSAS.
DEVE LER-SE: VIIINHO...VÉLHIIINHO...
XXVI
Melhor que a mulher é o vinho
Que faz esquecer a mulher...
Que faz dum amor já velhinho
Ressurgir novo prazer.
FINALE, MUITO CATÓLICO.
XXVII
Assim termina o lamento
Pois recordar é sofrer.
Ama e fode. É bom sustento!
E por nós reza um pater.
Luiz Pacheco
Num dia em que se achou
Mais pachorrento.


domingo, 5 de maio de 2024

do peixe do rico e do peixe do pobre




No hotel, comíamos muitas vezes red fish. Cozido, nem tanto, frito em fatias finas com limão, acompanhado de arroz de tomate e, o meu preferido, assado no forno com batata à padeiro e salada de alface.
Um peixe mal amado, que as pessoas desprezam apenas porque sim.
O red fish é o exemplo acabado de como o preço final não deriva da dificuldade da obtenção do bem, mas tão somente da procura pelo mercado. É barato porque é mal amado, não é barato por saltar do mar para dentro das traineiras, que não salta.
Hoje almoçámos red fish aqui em casa. Congelado, do Lidl, a 4,89€ o quilo, já sem cabeça e amanhado. Estivesse ele inteiro e o preço rondaria os 3,60€ (a cabeça e as tripas a pesarem 25% do peixe) por quilo: pouco mais de metade do preço de venda da sardinha, a avaliar pelo que ouvi nos noticiários.
Dois rabos de peixe que custaram 3,92€ no total, alimentaram três adultos e ainda sobrou uma porção mais que suficiente para voltar a alimentar um deles hoje ao jantar ou amanhã ao almoço, que cá por casa nada se estraga. 
Foi a segunda vez que comemos red fish cá em casa. Não fazia parte do menu, como nunca fez quando vivia com os meus pais. Posso afiançar que, pelo menos a minha mãe, morreu sem alguma vez ter comido red fish.
O red fish tem uma posta firme que lasca como a do cherne ou, para conhecedores, como a do achigã, uma camada de gordura natural (não há red fish de viveiro) que evita que os lombos fiquem secos e permite tirar com facilidade a pele e tem um sabor delicado, embora presente. Sal é suficiente.
Fiz no crisp do micro ondas (uma airfrier, mas em bom). Primeiro uma cebolada com pimentão, alho e azeite, também no crisp (5 minutos), depois as batatas temperadas com sal, tomilho, alho e pimentão e os peixes por cima de tudo, apenas esfregados com sal marinho a Figueira da Foz. Dez minutos no crisp, virar o peixe e mais quinze minutos para terminar.
Ainda me lembro de quando os pescadores de Mira ofereciam na areia as cavalas que, ao engano, entravam na rede. Hoje come-se cavala nos restaurantes Michelin. E nem estou a falar no rascasso que ninguém comia e hoje é iguaria cara nem no tamboril que, há cinquenta anos, era devolvido ao mar.
O red fish não almeja chegar à mesa dos ricos, mas é uma pena que mesmo os pobres o desprezem. Se calhar mais que alguns ricos: eu só o comia no serviço e o meu patrão comia-o em casa.  
Consta que estufado em molho de caril é do katano!


sábado, 4 de maio de 2024

do Hábito

 



Na cartomante:

-Até aos quarenta anos vai sofrer imenso com falta de dinheiro.
-E depois? E depois?
-Depois habitua-se

sexta-feira, 3 de maio de 2024

do Campeonato


Restou-me virar os olhos ao chão e assumir a soberba, a arrogância e o egoísmo.
Não que mo tenham apontado, mas cabe-nos olhar para os nossos actos e medir a consequência da sua dimensão.
Cheguei à fila dos carritos para despejar o veículo onde antes repousaram meia dúzia de compras.
Era o carrito mais pequeno, o que só tem uma fila e a fila estava ocupada.
Um velho de muletas, com as muletas dentro do carro e o carro a servir de andarilho, tentava sair de marcha a ré.
Esperei sem alvoroço e, é verdade, não tinha pressa, mas a pressa é uma coisa que se ganha num simples piscar de olhos ou, porquê negar, quando diante de nós alguém aparenta ter ainda menos pressa.
E a meio do trajecto, ainda entre guias, o idoso resolve ser audaz e dar a volta ao carrito para poder sair de frente do estacionamento.
Um velho, manco, entre duas guias metálicas que confinavam o estacionamento, a ousar uma manobra perigosa.
Não tinha como correr mal.
O condutor, apesar das limitações, não era desprovido e mostrou que afinal não tinha que correr mal. O carrito passava debaixo das guias e isso permitia a manobra.
Mas o tempo escorria.
E eu a gozar o prato. Eu, que já ouço amiúde a frase "olha que não vais para novo", armado em Tarzan Taborda, deixei o homem à sua sorte. 
"O senhor precisa de ajuda?" lançou uma cidadã que passava.
Não precisava. Estugou o passou, virou a viatura e foi-se embora para superfície comercial, a manclitar acima e abaixo, agarrado ao carrito, à laia de andarilho.
Restou-me virar os olhos ao chão.
Nem por um momento pensei que ajudar aquela alma teria sido mais proveitoso para ambos ou, num exercício de auto-comiseração porque, já mo têm dito, "não vou para novo", ao menos ter-lhe perguntado se precisava de ajuda.
Somos todos uns campeões até a vida nos mostrar que não. 

terça-feira, 30 de abril de 2024

da América a preto e branco

 

O cantor Tony Bennett combateu os nazis na longa batalha das Ardenas. Na noite de Acção de Graças de 1944, convidou um soldado negro para se juntar a ele na mesa do jantar. No dia a seguir foi enviado para um campo de concentração que tinha sido libertado e ficou a identificar e embalar mortos até regressar a casa.

do dia Internacional do Jazz



SE NÃO CONSEGUIRES EXPLICAR O QUE É, É JAZZ

domingo, 28 de abril de 2024

da Koisa que nos faz olhar para trás e ver



Não temos como ressarcir os povos cujos países ocupámos.
O passado é para assumir e analisar, mas nada o pode mudar.
Já no que respeita à devolução do que pode ser devolvido, isso pode ser feito e se do acto resultar alguma mitigação, melhor, mas pode e deve ser feito porque pertence à História desses países e mesmo que conjunturalmente tenho pertencido também à nossa História, deve descansar no local de origem.
Pelo que tenho lido, Portugal está a fazer um levantamento do património trazido das ex-colónias com o objectivo de, primeiro, o conhecer e, depois, espera-se, auscultar os países de onde foi trazido no sentido de saber se pretendem a devolução para enriquecerem o seu espólio, se pretendem que fique onde está para documentar a História.
É um enorme passo de reconhecimento.
Uma planta pode ser mantida eternamente num vaso, mas o seu lugar natural é a terra, o campo. Não fica menos bonita no vaso, mas a terra que a sustém não pertence ao vaso - foi lá colocada.
A vida dos povos faz-se sempre no presente, mas usa o passado como a maneira mais natural de garantir a cabeça erguida e de evitar, embora isso nem sempre aconteça, repetir erros e omissões. É esse o papel da memória e a História, a dos actos e a das obras, não é mais que a terra que mantém vivas as raízes.
O lado bom do passado é que nos deixa sempre aberta a possibilidade de o repetirmos ou não consoante nos seja mais útil, mas para isso temos que fazer uso dos seus ensinamentos - jamais o esconder ou adaptar.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

do eterno encanto da França e do Gosto que dela se enamorou.

 


O filme começa e, durante dezassete deliciosos minutos, só se ouve a cozinha. Sim. Podemos fechar os olhos e perceber, para quem ainda não percebeu, o porquê da cozinha francesa ser a mais requintada, completa, icónica, e ritualizada de todas as cozinhas do mundo delicioso.
Numa cadência vagarosa, sincopada, ritmada pelo entrechocar dos tachos e pelo crepitar dos vários calores, o milagre dá-se ali, diante dos nossos olhos que, à falta de melhor, adivinham os aromas e as consistências.
Um ritual de elegância, fogo, gelo, vida e morte em nome da vida e do prazer, do supremo prazer do usufruto. 
Parei, sem fôlego, o filme que a França vai levar aos óscares no próximo ano, para vir aqui escrever o post. 
Continua...
  

18262,5

 


Hoje não é o dia da liberdade, é o 18262,5º dia da liberdade.
Se um dia, um qualquer, deixar de ser dia da liberdade, tudo foi em vão.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

da Portugalidade que se encontra em praticamente todo o lado


Durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido não racionou bacalhau fresco para que nunca faltasse Fish and Chips aos ingleses. Esta medida não foi tomada apenas porque é um prato barato e popular, mas essencialmente porque a sua ausência poderia ter resultados catastróficos na moral da população.
Por aqui se vê a importância da coisa.
O prato, que ganhou fama no sec XIX, é composto por batatas "Ponte Nova" (de Pont Neuf, a ponte mais antiga de Paris, local onde se vendiam) e bacalhau fresco passado por polme e frito, "Fried Fish, Jewish Style", um prato levado para o Reino Unido no sec XVI pelos judeus sefarditas portugueses, que a Santa Inquisição fez o favor de correr daqui para fora, num momento da nossa História que ainda hoje nos deve envergonhar e fazer torcer a orelha.
Além do chá e da compota de laranja, também fomos nós que ensinámos os ingleses a comer com as mãos.


domingo, 21 de abril de 2024

da Luz

 

"Ring the bells that still can ringForget your perfect offeringThere is a crack, a crack in everythingThat's how the light gets in"
Leonard Cohen

Este ano é um ano tão bom como outro qualquer, mas em melhor, para se começar a olhar a História dos nossos últimos cem anos e para a explicar aos mais novos.
É verdade que há quinhentos e picos anos fomos donos do mundo, que construíamos os melhores barcos que o dinheiro pode comprar e que fomos, em grande parte, responsáveis pelo que hoje se chama globalização.
Mas isso ensina-se num ano lectivo e não existe o perigo de voltar para nos assombrar a vida ou para a tornar melhor.
Já o obscurantismo de praticamente metade do século vinte, a ditadura que ainda hoje nos faz olhar por cima do ombro, o nosso tão característico olhar de baixo para cima perante o poder, a resiliência conformada aos tropeções da vida e o fado, o destino colado ao coração, isso, sente-se a cada dia que passa, pode facilmente voltar e não sei se teremos forças para evitar que se instale. Os novos têm que saber o que é não ter liberdade de expressão, têm que perceber que os bufos não eram apenas queixinhas. Têm que saber que antes de setenta e quatro também havia corrupção, que já havia fake news e que era perigosa qualquer tentativa de as corrigir, que a narrativa nos espezinhou ao ponto de acharmos que pobreza e humildade eram sinónimos e que decência era um atributo de quem cumpria os mandamentos e as obrigações. A liberdade permite que tudo se possa experimentar e a democracia, por definição, não fecha portas - só a consciência, o conhecimento e o espírito crítico consegue destrinçar o que é daninho do que é são. E sem conhecimento, o espírito crítico é pífio. Mais vale não ser. O ensino da História contemporânea, sem artefactos nem ideologias, sem deve nem haver, limpa, factual, é uma obrigação da sociedade para com as novas gerações. Estamos a falhar. Se, de surpresa, se entregasse uma folha de papel a todos os jovens com, digamos, dezasseis anos, e lhe fosse pedido que enquadrassem num ensaio o contexto da ditadura e os acontecimentos de setenta e quatro, temo que o resultado fosse desastroso. Quem não conhece o mal, convive com ele e deixa-o crescer.

sábado, 20 de abril de 2024

do Cubo elevado ao zero

(a imagem é um estudo da careca do escriba. simboliza a descoberta da careca do Pessoa)
Gordon Ramsay usa caldos de cubinho na cozinha. Não mente e até já o apanhei a dizer que coisas como os caldos de cubo e a massa folhada de compra substituem muito bem os que fazemos em casa, dão menos trabalho e ficam mais baratos. Não sei se os usa nos restaurantes com estrela dos pneus, mas quem o vê na televisão não pretende ganhar estrelas nem garfos nem placas dos gajos dos pneus. Só quer fazer comer e comer e conviver com os amigos. Ontem apanhei o Henrique Sá Pessoa no zapping. Estava a fazer um arroz de tomate que me ficou na ideia, mas deixou que uma certa arrogânciazita intelectual lhe manchasse a performance. "Agora ponham (não sei quantos) mililitros de caldo de legumes no arroz que está a fritar. Eu faço o caldo, mas vocês podem usar caldo de compra, dos cubos. Eu sei que o vão usar e não há mal nisso, mas eu faço o meu caldo." Não fez. Aquele caldo era de cubo. Mentiu. Os caldos feitos em casa são coados, não têm pedacinhos de ervas a boiar. Os caldos de cubo têm pedacinhos de ervas a boiar. Às vezes preferia viver na ignorância. Agora não consigo olhar para o gajo sem lhe chamar pantomineiro. Quanto ao arroz de tomate, fez uma cebolada, não é cebola picada, é cebolada mesmo, fritou o arroz na cebolada, refrescou com vinho branco e depois acrescentou o tal caldo. Tirou a pele e as sementes a um tomate fresco, cortou-o em juliana grossa e só o juntou quando o arroz estava quase cozido. Terminou com uns talos de coentro e, não fosse eu ter ficado chocado por o gajo me ter mentido, diria que temos ali uma obra prima para acompanhar uns panados de vitela. Ele acompanhou bacalhau frito.
Era só isto

do que fica Obsoleto se não nos empenharmos


Desenhei este cravo, agora mesmo, no Paint.
O Paint tem apenas menos onze anos que a nossa democracia. Faz em Novembro trinta e nove anos.
O Paint foi descontinuado porque ficou obsoleto. Não conseguiu acompanhar os tempos.
É assim a democracia. Se não for diariamente regada, fica obsoleta. Mas, ao contrário do Paint, e porque não temos nada melhor para a substituir, não pode ser descontinuada.
Não a podemos deixar ficar obsoleta.
Reguemos...

quinta-feira, 18 de abril de 2024

do Karaças e das idiossincrasias da vida dos simples

(parte final do teste um aluno, julgo que nepalês, que me sensibilizou ao ponto de o guardar por anos)

Hoje dei a última aula a uma turma e acabámos em amena cavaqueira a falar da vida e das profissões ligadas, no caso, à restauração.
Quem não gosta disto, é melhor pensar já em ver de vida por outro lado - abri as hostilidades - porque esta, vocês já se aperceberam, é uma área muito absorvente.
E pus-me a pensar.
Há casos em que o trabalho até nem é muito, mas a entrega nunca pode ser menos que intensa.
Em hotelaria, em restauração, os clientes, mesmo os menos exigentes, passam muito tempo connosco. Comparável com a nossa actividade, só os hospitais, mas até aí o objectivo não passa de manter o cliente vivo, enquanto que no nosso caso, tem que estar vivo, feliz e com vontade de voltar, algo que não me parece que aconteça nos hospitais.
Se estão a empurrar a vossa situação com a barriga, desenganem-se, o que têm hoje é o que vão ter no futuro, aqui já estava a falar novamente.
Eu neste momento estou a estudar, a estagiar e a trabalhar, tudo ao mesmo tempo. Saio de casa, o meu namorado fica a dormir, chego a casa e já está a dormir.
E um dia destes, não está lá. Aqui comentei eu, um pouco a despropósito.
Como é que com uma situação assim, posso pensar em ter filhos, em construir uma família? - e começou-lhe a bailar uma lágrima em cada olho.
Felizmente - atalhei - já há cada vez mais sítios que garantem horários seguidos e condições de trabalho bastante confortáveis, isso é uma realidade, mas a força, mesmo nesses casos continua a ter que se fazer para conseguir desligar. E tudo isso tem que ser equacionado antes de ferirmos alguém que tenha depositado a sua esperança no nosso futuro, em fazer parte dele - aqui já não me lembro se falei, se pensei.
A turma toda achegou-se e os exemplos saltaram que nem coelhos. 
Não sei se este tipo de abordagem é o correcto para se ter numa escola, mas a verdade é que no final destes vinte minutos de coração esbragalado e conversa ao ritmo das emoções e do apalpanço ao deve e ao haver, houve quem saísse com mais certezas que as que tinha vinte minutos antes. A formação não pode ser apenas imersão nos conteúdos, tem que ser choque com as realidades.
Cada vez mais tem que ser choque com as realidades.
Formar jovens esclarecidos, profissionais mais robustos.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

das Democracias assim assim

 

Algures na China, uma ditadura, uma estação homenageia o sofrimento das mulheres.
Em Portugal, uma democracia, fala-se no estatuto da dona de casa.