quinta-feira, 18 de abril de 2024

do Karaças e das idiossincrasias da vida dos simples

(parte final do teste um aluno, julgo que nepalês, que me sensibilizou ao ponto de o guardar por anos)

Hoje dei a última aula a uma turma e acabámos em amena cavaqueira a falar da vida e das profissões ligadas, no caso, à restauração.
Quem não gosta disto, é melhor pensar já em ver de vida por outro lado - abri as hostilidades - porque esta, vocês já se aperceberam, é uma área muito absorvente.
E pus-me a pensar.
Há casos em que o trabalho até nem é muito, mas a entrega nunca pode ser menos que intensa.
Em hotelaria, em restauração, os clientes, mesmo os menos exigentes, passam muito tempo connosco. Comparável com a nossa actividade, só os hospitais, mas até aí o objectivo não passa de manter o cliente vivo, enquanto que no nosso caso, tem que estar vivo, feliz e com vontade de voltar, algo que não me parece que aconteça nos hospitais.
Se estão a empurrar a vossa situação com a barriga, desenganem-se, o que têm hoje é o que vão ter no futuro, aqui já estava a falar novamente.
Eu neste momento estou a estudar, a estagiar e a trabalhar, tudo ao mesmo tempo. Saio de casa, o meu namorado fica a dormir, chego a casa e já está a dormir.
E um dia destes, não está lá. Aqui comentei eu, um pouco a despropósito.
Como é que com uma situação assim, posso pensar em ter filhos, em construir uma família? - e começou-lhe a bailar uma lágrima em cada olho.
Felizmente - atalhei - já há cada vez mais sítios que garantem horários seguidos e condições de trabalho bastante confortáveis, isso é uma realidade, mas a força, mesmo nesses casos continua a ter que se fazer para conseguir desligar. E tudo isso tem que ser equacionado antes de ferirmos alguém que tenha depositado a sua esperança no nosso futuro, em fazer parte dele - aqui já não me lembro se falei, se pensei.
A turma toda achegou-se e os exemplos saltaram que nem coelhos. 
Não sei se este tipo de abordagem é o correcto para se ter numa escola, mas a verdade é que no final destes vinte minutos de coração esbragalado e conversa ao ritmo das emoções e do apalpanço ao deve e ao haver, houve quem saísse com mais certezas que as que tinha vinte minutos antes. A formação não pode ser apenas imersão nos conteúdos, tem que ser choque com as realidades.
Cada vez mais tem que ser choque com as realidades.
Formar jovens esclarecidos, profissionais mais robustos.

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