sexta-feira, 11 de março de 2011

do fiel e estaladiço Amigo

(Assumo que não pedi autorização para usar a imagem, mas julgo que é por uma boa causa. Assim o julguem os detentores da mesma, espero.)

Não me recordo das exactas palavras que usei na altura, mas constam de uma acta da Assembleia Municipal da Mealhada,  de data que também não consigo precisar.
À época eu era membro da Assembleia e posso apenas garantir que foi no mandato anterior ao actual.
E as palavras quiseram tão somente expressar o meu apreço pessoal pelo projecto "As Quatro Maravilhas da Mesa da Mealhada".
Achava eu na altura que se tratava de uma ideia com pés e cabeça, de um projecto que reunia todos os quesitos para ser um sucesso. Os ingredientes estavam lá (e de altíssima qualidade) e a confecção ameaçava cumprir o prometido: promover produtos de excelência, mas acima de tudo promover o seu consumo no local de origem e garantir a qualidade dos mesmos.
Anos volvidos, é inegável que o projecto continua de pé.
Se concordo com o rumo ou não, se faria igual ou diferente, se faria mais ou menos, é algo que guardarei para mim pois não é isso que me traz ao tema.
E para introduzir o tema, há que criar a polémica.
De facto, dos quatro produtos que compõem a sigla "Quatro Maravilhas", apenas o pão pode com propriedade reclamar para si o epíteto de "da Mealhada". O vinho é "da Bairrada", a água é "do Luso" e o leitão é assado "à Moda da Bairrada". 
O concelho da Mealhada tem realmente o privilégio de poder de forma única congregar estes quatro produtos de excelência. Deve servir-se da qualidade que lhes incorpora em proveito próprio, mas não deve distorcer os factos.
Há Bairrada para além da Mealhada.
Por muito que se queira batalhar nesse sentido, não existe nenhum produto chamado "Leitão assado à Moda da Mealhada" e mesmo que se conseguisse provar a paternidade da iguaria (facto que me deixaria tremendamente satisfeito por causa de histórias antigas, mas altamente improvável), mesmo assim, muito dificilmente se conseguiria trocar Bairrada por Mealhada. 
Não é necessário forçar a tecla: as coisas acontecem naturalmente.
A Confraria dos Enófilos da Bairrada promove os seus capítulos onde? Na Mealhada. Naquele que não é, garantidamente, o concelho bairradino onde mais vinho se produz.
A Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada, reconhece a Mealhada como capital do leitão e fá-lo naturalmente: já ouvi a expressão directamente da boca de António Duque e li-a ontem num dos nossos jornais, prafraseando-o. Outra coisa não seria de esperar: a Mealhada é o local do mundo onde se confecciona o mais afamado Leitão Assado à Moda da Bairrada. Para mim, o melhor.
Passemos dos factos reais à realidade dos factos.
Se esta coisa das sete maravilhas da gastronomia é importante? É-o tanto como foram as sete maravilhas naturais. Tão importante que desafio quem quer que seja a enumerá-las (as naturais) sem recorrer ao Google.
Vale o que vale e mais não julgo necessário acrescentar.  
Mas apostar na candidatura de um produto "postiço" e ainda por cima contar com a concorrência de dois putativos irmãos na mesma categoria é, não vou exagerar, arriscado. 
Para este fim específico, o termo Bairrada tem mais notoriedade que o termo Mealhada.
A Mealhada não sai mínimamente beliscada se candidatar o leitão em saudável conlúio com as outras entidades bairradinas que o queiram fazer: se o leitão da Bairrada perder é uma imensa injustiça, mas se ganhar será a Mealhada, sem dúvida, a maior beneficiada. 
Reduzir um tema desta grandeza a uma luta política como já li chamarem-lhe ou a uma comparação de egos ou de actividades confrádicas é francamente pouco.
E pobre.
E que alguém se decida de uma vez por todas a criar uma confraria que ostente o nome Quatro Maravilhas da Mesa da Mealhada no capote.
Mas uma confraria a sério: daquelas que se mexem.    
 

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