Desde o dia em que nascemos que entramos num processo de degradação que terminará, sem excepção, na nossa morte. Todos iremos um dia morrer: apenas não sabemos como nem quando.
É esse o mistério da vida. É essa a sua maior grandeza.
Alterar o curso da vida é desafiar a própria natureza.
Seja para a prolongar seja para a encurtar, sempre que estamos a modificar o caminho da vida, estamos a demonstrar que somos mais que animais. Estamos a provar que, por um acaso do cosmos, criámos a capacidade de, conscientemente, brincarmos aos deuses. Cria-se um poder de manipulação que fascina.
Poder alterar o que está escrito, mexe-nos com os sentimentos mais profundos.
A morte faz parte da vida e quanto mais cedo tivermos consciência disso, mais prazer tiraremos da nossa existência.
Dexter Morgan é um técnico forense da brigada de homicídios da polícia de Miami.
Desde pequeno que tem tendências homicidas que o padrasto, detective entretanto falecido, conseguiu canalizar para um objectivo menos, digamos, abjecto.
Dexter torna-se um serial killer de toda a especie de escumalha que o sistema judicial não consegue punir convenientemente.
Guia-se por um código (apenas assassinos ou violadores) e por um ritual (paralisa-os com uma injecção no pescoço, envolve-os em película, retira-lhes um pouco de sangue da face que guarda numa lamela, mata-os com uma estocada certeira na aorta, corta os corpos em pedaços e lança-os ao mar).
Dexter é uma série de televisão.
Embora a descrição anterior possa antever argumentos sumarentos, a trama da série passa um pouco ao lado desta pulsão de Dexter Morgan.
Aquilo que mais cativa, aquilo que mais prende ao ecran é que é possível simpatizarmos com um serial killer. A série permite-nos assistir à evolução de uma pessoa que nasceu com um monstro dentro de si e que, pela interacção com o mundo à sua volta, acaba por evoluir a cada episódio no sentido de se tornar mais humano.
A série passa na Fox FX e começa agora em Portugal a sua terceira temporada.
Eu não me contive e já consegui arranjar toda esta terceira temporada que ando a devorar avidamente. E não estou nada arrependido.
Dexter é agora um ser muito mais humano. Tem dúvidas, comete erros, perde a calma. Tudo porque logo no primeiro episódio mata, por acidente, alguém que não se encaixa no seu código: alguém inocente que vai ficar marcado no seu cérebro distorcido e que lhe vai alterar toda a vida.
Uma grande série, uma série de culto para guardar na prateleira das primeiras temporadas de Ficheiros Secretos.
Olá!
ResponderEliminarMas que surpresa, Pedro!
As coisas às vezes surgem de onde menos se espera.
Não conheço o personagem,nem a série.
Conheço, no entanto, uma verdade eterna e imutável: não é aceitavel o assassínio, seja qual for o pretexto ou a motivação. A alegação de que nasceu com um monstro dentro, não justifica nada.
E a absolvição, o patético enlevo e quase idolatração por tal indivíduo, deixa-me perplexo...
Simpatizar com um serial killer? Evoluir a cada episódio no sentido de se tornar mais humano?
ResponderEliminarMatando?
Ora cebolório, Pedro!
Lá que aprecie uns drinks e uns acepites exóticos, como já aqui confessou, como bon vivant que parece ser, tudo bem, é lá consigo, o fígado, o coração e cada célula do seu corpo, sao seus.
Mas isto?
Isto não parece seu!
eh eh eh eh eh!
ResponderEliminarBe afraid.
Be very afraid!
Bem, fora toda a psicanálise devida (ou não) ao Pedro Costa, a verdade é que a serie nos faz de facto sentir empatia por alguém que mata, e sente prazer em faze-lo. Não é pioneira essa brincadeira de nos fazer negar e renegar (mais que não seja momentaneamente) alguns princípios que temos incutidos em nos desde o berço (e ainda bem que os temos), basta pensar na lista de filmes e livros que nos fazem “escolher o lado do bandido”. Quanto a esta serie, a ideia é realmente boa, o personagem principal também, só é pena (e uma pena profundamente desmotivante) que o resto do elenco seja terrivelmente mau (daquele terrivelmente mau que ate arde nos olhos).
ResponderEliminarA história é o Dexter. O resto são adereços, embora a namorada dele seja jeitosinha.
ResponderEliminarMas isso tambem faz parte do encanto da coisa.
Os filmes do Tarantino e os do Robert Rodriguez também não têm sumo nenhum e no entanto eu considero-os como cinema de culto.
Sim, sem dúvida. As vezes basta uma personagem para fazer um grande filme/serie/livro. Mas já que o Dexter foi tão bem conseguido, podiam ter investido mais uns dolarezitos e conseguido uns secundários que soubessem actuar, pois o problema não é das personagens, é dos actores (pelo menos os da primeira temporada, que a segunda e a terceira ainda não tive tempo para ver). A serie merecia.
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