domingo, 26 de setembro de 2010
Edge of darkness
O tema é polémico e actual.
A situação poderia muito bem acontecer.
A história podia ser fantástica, mas não é.
Infelizmente o argumento é fraco e está muito mal realizado. Tem solavancos na trama que deixam coisas por explicar e eventos metidos à pressão que não têm qualquer explicação.
Não chega a ser mau, é vulgar.
da Portugalia
A primeira vez que fui à Portugalia devia ter uns dez anos. À Portugalia, porque na altura só havia uma: a da Almirante Reis.
Fiquei esmagado com tanta sofisticação: um edifício avassalador (quando se tem dez anos, tudo nos parece enorme), copos com um emblema e com o nome do restaurante (não me lembro, mas tenho quase a certeza que não bebi cerveja), batatinhas fritas servidas à parte e um bife assim imerso num molho espesso - natas, entre outras coisas, disseram-me na altura.
Natas!
Há trinta anos, natas era uma coisa luxuosa. Como o eram champignons, ou o ananás ou o marisco.
Um dia alguém ofereceu uma lagosta ao meu pai e lembro-me que à falta de ideias suficientemente grandiosas para a servir, foi ficando na arca. Dois anos. Quando a tirámos, estava parcialmente seca.
Ainda hoje, e embora já tenha comido muito quilo de bife, ainda hoje considero como definição de bife, o bife da Portugalia. Chamem-me conservador. É justo. Um dia destes ouvi o Miguel Esteves Cardoso no programa do Carlos Vaz Marques na TSF a dizer que um conservador é aquela pessoa que gosta de manter intactas (disse mais ou menos assim) as coisas que funcionam bem. Eu subscrevo.
Hoje almocei numa Portugalia. A de Coimbra, por comodidade. Tinha a familia a fazer turismo de guerra por terras da encosta leste do Bussaco e como tinha que vir trabalhar, aproveitei. Uma das poucas mordomias de ser recepcionista em part-time com ordenado de director.
E porque sou conservador, conservei-me fiel ao "do costume": um creme de camarão, um bife do lombo mal passado com molho Portugalia, batatinhas e uma quantas imperiais (Sagres, não me canso de reclamar).
Irrepreensível.
Confirmo a definição: bife é na Portugalia.
Suculento e tenríssimo.
Nota de rodapé - Sei que o molho não leva natas, mas como sou conservador e durante anos achei que levava, assumo. É engrossado com amido, provavelmente Maizena. Mas leva leite, e mais um ingrediente misterioso que não revelo.
Nota de rodapé - Sei que o molho não leva natas, mas como sou conservador e durante anos achei que levava, assumo. É engrossado com amido, provavelmente Maizena. Mas leva leite, e mais um ingrediente misterioso que não revelo.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
da Coisa...
Cubist Still Life - Roy Lichtenstein
De
Veras loucas manhãs
E noites tristes
Se engalfinha a vida.
E gotas de suor nas caras.
E caras gotas de orvalho
A cheirar a sândalo e jasmim.
E o aroma da paixão
Que bate à porta.
Sopetão de loucura
Ilusionismo e desregrada fé
Na vida.
E um beijo no pescoço
E dor...
Saudade e despedida.
E o aroma da partida é doce.
Cintilando,
O brilho em cada esquina
Do último olhar
Maior que o mundo.
E triste.
É triste a dor de ter
Sem ter,
De olhar sem ver,
Morrer em vida,
Só por ser.
2010.09.24
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
da Magnum
Embora com rigor científico duvidoso, atrevo-me a dizer que a esmagadora maioria das boas ideias que fizeram e fazem rolar o mundo se deveram e (felizmente) devem a excêntricos.
Pela parte que me toca, ficasse eu excessivamente rico (se é que isso é possível) e dedicar-me-ia à solene causa da excentricidade.
Não há nada que impeça os pobres de serem excêntricos (excluída a falta de dinheiro) mas sentir-me-ia mais confortável se o fosse sendo rico do que meramente remediado, posição que provisoriamente ocupo.
O meu subconsciente é, por questões higiénicas, dividido em dois grandes blocos: o bloco activo (que menosprezo), onde se escondem aquelas forças negras que me impelem a trabalhar e a dar de mim um ar compostinho e o bloco prazenteiro que se divide em ineficiência, desperdício, alucinação, hibernação e inutilidade.
Mercê da sua maior organização interna, o bloco activo impõe-se e com ele vou vivendo, mas tenho à espreita todo um manancial de pequenas inutilidades. De pequenos eus, doidos por cabriolar pelas avenidas da vida abaixo.
Esperai que talvez um dia a coisa se dê!
Como me é de todo impossível, momentaneamente, espraiar a disfunção, aprecio e venero os excêntricos com a inveja que me é permitido ter pelos que são realmente grandes.
À cabeça dos meus sonhos vem indubitavelmente Leonardo Da Vinci. Por tudo, e apenas por isto - uma máquina de partir ovos que utilizava a necessária (provavelmente excessiva) força de quatro cavalgaduras para cumprir a sua função. Existe o projecto da coisa, nada prova que tenha sido sequer tentada a construção, com mais que óbvia pena de toda uma humanidade em busca de novas razões para aplaudir.
De forma menos prosaica, admiro (com curvadíssima vénia) o grupo de marinheiros americanos que nos idos de setenta foram suspensos de funções por utilizarem as juntas de um porta-aviões como quebra-nozes. Dependia a produtividade da máquina do estado do mar e penso que será oportuno lembrar que, ancorado, o mastodonte perdia toda a sua utilidade.
Ontem, e ontem será porque a esta hora já é amanhã, regressando a desoras à leitura do meu mais antigo livro de cabeceira, Stirred But Not Shaken (a quase quase póstuma autobiografia de Keith Floyd), capturei mais um antológico momento de excêntrica e salutar alegria de viver.
Estava Floyd a filmar em França para a série da BBC "Floyd in France" no início dos anos oitenta quando o seu produtor, David Pritchard, conheceu numa noite de copos um multimilionário hippie que vivia num palácio nas redondezas do local onde pretendiam filmar um episódio. Mais ainda, o senhor tinha um artefacto que na altura pareceu apropriado à utilização num programa de culinária: um balão de ar quente.
Dito e feito e lá vão, ar acima, o feliz proprietário, um desconfiado Keith Floyd e um pouco menos que aterrorizado Clive North, o operador de camara.
A ideia era dar uma voltinha, filmar uns "pretties" e fazer uns comentários acerca da vista.
Já a considerável altura, o francês resolve obsequiar os convidados com nada menos que uma taça de Champagne e daí a aparecer dos confins do cesto uma Magnum, foi um instante.
Fleumático, e para mais tarde se arrepender, Floyd terá feito um comentário acerca da temperatura pouco apropriada do vinho.
Conhecedor de física, talvez mais do que de condução de balões, o milionário (hippie) explicou aos dois ingleses boquiabertos como se gela uma garrafa de Champagne instantaneamente - expondo-a à evaporação do gás butano das garrafas do balão.
O princípio era correcto, embora o local não fosse adequado.
Privada de gás (que entretanto se consumiu a arrefecer um litro e meio de néctar), a chama que aquecia o ar do balão extinguiu-se e a descida abrupta terminou numa auto-estrada onde felizmente algúem se apercebeu da chegada do balão, parando a tempo de evitar um choque que poderia ter um desfecho funesto para estas três personagens de opereta.
O francês, que reconhecia ao seu balão vontade própria e dotes de geografia, não fazia a mais pequena ideia do sítio onde tinham aterrado, o que dificultou um pouco a confecção do prato correspondente a esse episódio, cujos ingredientes viajavam num carro juntamente com o resto da equipa.
sábado, 18 de setembro de 2010
Welcome
Existirá uma força que o impeça de desistir?
Mesmo que pela frente tenha o Mar do Norte e mais de trinta e cinco quilómetros de água gelada, correntes e enormes petroleiros, tudo a convencê-lo por uma vez a encarar a hipótese de capitular?
Existirá?
Claro que existe. E está explicadinha neste filme de 2009, que ganhou um carradão de prémios em toda a Europa.
Realizado por Phillipe Lioret, Welcome é a história de Bilal, um miúdo Iraquiano do Curdistão que percorre a pé quatro mil quilómetros para encontrar a namorada que vive em Londres com os pais. Nada o consegue parar, incluindo o exército turco, até chegar a Pas de Calais e ao tenebroso Canal da Mancha que finalmente lhe barra o caminho.
E porque uma força imensa o impele, Bilal arrisca atravessar o Canal a nado. No Inverno, quando nunca ninguém tinha sequer tentado.
Um belíssimo filme.
Um hino à força do amor. E à estupidez de certas mentalidades.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
d'A Caruma
Leiria de regresso à grande música.
A minha última paixoneta musical.
O album chama-se A Caruma e custa onze euros e uns trocados.
Bora lá ajudar os músicos portugueses.
Que para mais nem são de Lisboa nem do Porto.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
dos postos de trabalho
O número de funcionários municipais aumentou no nosso país.
Aparentemente porque houve mais serviços descentralizados, nomeadamente escolas.
Mas então o objectivo não era precisamente o contrário?
Porque será que em Portugal resulta tudo ao contrário do planeado?
Mau planeamento ou má execução?
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
do Balcão
O balcão é íntimo.
É aconchegado.
Não existe melhor companhia para um repasto ligeiro que a madeira bem tratada de um balcão.
Por vezes, faz jeito ter do outro lado um empregado que nos ouça só por ouvir, mas na maioria dos casos, basta o balcão.
Uma cadeira cómoda, sem ser perigosa, e espaço para acomodar as pernas também é fundamental.
Imprescindível, uma boa barra para descansar os pés e ajudar à subida e descida.
Se não for pedir muito, uma luz baixa. Só para nós.
O Gambrinus é o melhor balcão do mundo (ponto final).
Passemos à frente.
De miúdo, e porque o balcão nos faz sentir homens (ali estamos por nossa conta), de miúdo lembro-me do balcão da Centenário, em Aveiro, memorável na sopa do mar e numa sobremesa do mais comum que há (flan com merengue por cima) mas que me parecia, ao tempo, divina.
Lembro-me de mais dois ou três balcões onde comi pregos com o meu pai em várias cidades de norte a sul e especialmente do Snack Bar Sotavento, em Albufeira, nos finais de setenta. Era Albufeira ainda uma vilória de pescadores com cães vadios e potes de barro da pesca do polvo espalhados pela praia. E o Sotavento era uma casa moderna, com um balcão em inox e hordas de ingleses que bebiam sangria. Era fantástico deixar as coisas na praia, abancar no balcão com os pés pendurados, comer frango de churrasco com batatas e salada e um sumol.
Um sumol por dia.
No Porto, lembro-me do balcão da Gambamar, a perder de vista, das mesas de marisco no Capa Negra (tenho um episódio negro da minha vida que envolve uma dessas mesas e alguns litros de cerveja, mas agora não é relevante) quando me sentava ao balcão a comer os maiores rissois do mundo e do balcão da Galiza onde comi algumas das francesinhas mais memoráveis.
Um parentesis para o John Bull em Cascais onde nunca comi, mas ao qual encostei muitas vezes a barriga para beber uma Guinness enquanto o Sr Joaquim Couto, proprietário do bar (à época) e mealhadense de gema, se aquecia junto à lareira naqueles fins de tarde de Inverno em que a marginal parecia mágica e o oceano parecia louco.
Em Coimbra há um balcão: o da Munich.
Hoje visitei-o. Desta vez numa quase visita de médico.
Foram camarões da costa que brilhavam de frescura, ostras que só pecaram por não terem pimenta em grão para moer (isto para não falar das torradinhas de pão escuro com manteiga que só o Gambrinus tem), percebes irrepreensíveis e um prego no pão que acabou por não aparecer porque o cozinheiro só entrava às seis e antes disso recebi um telefonema a requisitar os meus serviços com certa urgência.
Menos bom só a cerveja que, desgraçadamente, continua a ser Sagres.
Adoro balcões.
Penso que dá para perceber.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
das aberrações
A Makro de Coimbra vai mudar de lugar na próxima semana.
Fui lá ontem para me despedir - sou assim, nada a fazer.
Comprei uma garrafa de Bols Mango para os xiripitis da Elsa e uma coisa que já andava há imenso tempo para experimentar: Croft Pink.
Supostamente será um vinho do Porto ligeiro, rosado, para senhoras, segundo a marca.
Natural é imbebível, frio é muito mau, misturado com água tónica é intragável.
Vai direitinho para o lugar especial onde guardo guardo as aderrações, fazer companhia a uma garrafa de vodka baunilha.
Tenho dito.
PS.Para a Elsa fiz uma coisa docinha: Bols Mango, Compal de coco e ananás, sumo de limão e gelo. Não a avisei que tinha alcool... Quinou!
terça-feira, 7 de setembro de 2010
da qualidade do Ar
O senhores do Turismo Centro de Portugal, postaram há momentos no facebook um conjunto de fotografias a que chamaram pomposamente "The magic of breathing fresh air", de onde retirei a foto que ilustra este texto.
Temo pela resposta, mas chamarem "fresh air" a um produto que contem "pollutive agents" é levar a um patamar completamente novo a máxima "no marketing deve utilizar-se uma política de verdade".
Pensei que se trataria apenas do ar do Luso que tivesse sido recolhido num dia de laboração da Alcides Branco mas, após consulta, constatei que afinal a moléstia se estende a toda a Região Centro.
Preocupante.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
da dificuldade
O meu filho enviou-me este video por email.
Deve ser a prenda que quer para o Natal.
Onde será que isto se compra?
domingo, 5 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
da Performance
Aparentemente não se passa o mesmo com as motos.
A menina da foto é uma Mission One, eléctrica, que faz praticamente 250 Km com uma carga de duas horas, ultrapassando os 220Km/h de velocidade de ponta.
E é lindíssima.
Mesmo para quem não acha muita piada às motos, como é o meu caso.
Mais informação aqui.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
dos Figos
Porque agora há figos.
Porque me lembrei que o meu pai adorava figos.
Porque lhes reconheço o mérito, embora não seja grande apreciador.
Por tudo isso, uma coisa totalmente diferente: "Mini tatins de figo".
Forram-se formas de queque com papel vegetal.
Faz-se um caramelo espesso ao qual se adiciona um bocadinho de manteiga para ficar cremoso.
Preenche-se com o caramelo o fundo das formas forradas.
Planta-se uma noz de manteiga em cima do caramelo que entretanto arrefeceu um bocadinho.
Corta-se o píncaro dos figos, um figo por forma.
Espalmam-se os figos, e pressionam-se contra o caramelo com a parte cortada virada para cima.
Tapa-se cada figo com um disco de massa folhada e pressiona-se a massa contra os bordos da forma.
Pica-se a massa com um garfo.
Colocam-se as formas numa frigideira e aquecem-se no fogão até se notar que o caramelo está a borbulhar.
Introduzem-se depois no forno previamente aquecido para cozer a massa folhada.
Quando estiverem douradas, retiram-se.
Deixam-se arrefecer.
Desenformam-se com cuidado com a ajuda de uma faca.
Retira-se o papel e empratam-se com a massa virada para baixo.
Devem ficar uma coisa fantástica...
Serão meninas, as tartes, para casar muito bem com uma bola de gelado de baunilha.
Ainda mornas.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
da facilidade
Queria uma caixa automática para levantar dinheiro.
Expliquei-lhe onde era mas disse-lhe que havia caixas Multibanco mais próximas.
Que não, que se não fosse no Santander, lhe cobrariam taxas.
Perguntei-lhe se em Espanha também lhe cobravam taxas em situação semelhante.
Que sim, e taxas diferentes de provincia para província.
Brilhei. Enchi a peitaça e disse-lhe que Portugal era muito mais evoluído e que por cá há anos que tinhamos uma rede comum a todos os bancos.
Desafiei-o a ir ao Multibanco mais próximo onde, assegurei, não lhe cobrariam nada.
Mais.
Garanti-lhe a total devolução do valor, caso estivesse a enganá-lo.
Foi e voltou contente.
Nem de propósito, dizia eu, porque o sistema Multibanco faz hoje 25 anos.
Muito provavelmente o sistema interbancário mais eficiente do mundo.
Parabéns.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Mic Macs
Alucinante.
da Disseminação
Tendo por base estudos com algum rigor científico, se nada mudar nos próximos tempos, se continuarmos em contenção de esperma e se os nossos irmãos muçulmanos continuarem a reproduzir-se como coelhos (isto sem ofensa, obviamente), se tudo continuar assim, dentro da algumas dezenas de anos seremos todos muçulmanos.
Por mim, encantado.
Até gosto do look.
A Elsa está a acabar de costurar a Burka.
Depois mostro como ficou bonita.
das matrizes
Do mesmo modo que o leitão de referência será sempre o do Pedro.
Do mesmo modo que nunca ninguém conseguirá fazer um folar que seja sequer parecido com os da saudosa Maria Barroso.
Do mesmo modo que difcilmente voltarei a comer cabidela tão boa como a da minha tia Alice.
Do mesmo modo que nunca mais provei broa como a da Sra Alzira Machada.
Desse mesmo modo, jamais alguém ousará cozer pão que se aproxime sequer do pão da Sra. Anunciação.
Mas há quem tente.
Às vezes com algum sucesso.
O da foto é cozido na Churrasqueira Rocha e, pelo que conheço de José Rocha, está ainda em evolução.
Muitíssimo bom.
Arrisco mesmo dizer (a minha opinião vale o que vale) que é dos mais parecidos com a matriz que já tive oportunidade de comer.
Subscrever:
Mensagens (Atom)