terça-feira, 24 de maio de 2011

do Zimmerman ou de como às vezes nem é preciso saber cantar



Ter ideais é saudável.
Lutar por eles pode ser uma coisa trabalhosa, perigosa, às vezes letal.
Há, no entanto, maneiras bonitas de lutar. Maneiras harmoniosas, modos subtis de ser incisivo, pancadinhas de luva que aleijam como pregos.
Nos últimos cinquenta anos, houve quem combatesse a espada com a viola, a violência com a melodia, a opressão com a canção.
Muitos cairam, alguns cresceram e afirmaram-se enquanto artistas maiores, porta-bandeiras do inconformismo e do desconforto de ser sovado.
"The times they are A changing" abriram a porta e deixaram entrar a torrente "Like a Rolling Stone".
E apesar de não ser literalmente verdade que, como dizia a viola de Woodie Guthrie, "This machine kills fascists", não deixa de ser um facto que se não os mata, aos fascistas e a todos os outros extremistas, pelo menos amedronta-os porque traz o povo às costas.
E o povo, Robert Allen Zimmerman sabe-o ainda hoje, o povo, se não é, devia ser quem mais ordena.
Robert Allen Zimmerman, Bob Dylan para os menos íntimos, não sabe cantar, mas canta como ninguém e faz hoje setenta anos. 
Parabéns Mr. Zimmerman; que conte muitos na nossa companhia.
A definição de liberdade deve-lhe pelo menos um parágrafo.  

quinta-feira, 19 de maio de 2011

do apelo


Em dia de aniversário da Fundação Mata do Bussaco, um apelo muito sentido.

Salvem o Palace!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

do pormenor


Ultimamente tenho trabalhado no hotel com alguns grupos de estudantes canadianos que, num esforço para serem simpáticos, ensaiam algumas palavras na nossa língua materna, o castelhano.
Dizem essencialmente “gracias” e “hola!”.
Invariavelmente, pergunto-lhes se são americanos pois sei que isso os deixa aborrecidos.
Perante o obvio “no, we’re canadians”, explico-lhes que nós também não somos espanhóis e que se querem ser simpáticos connosco sempre podem aprender umas palavritas em português.
É um pormenor, um pormenor bastante chato, mas não suficientemente valioso para me levar a não querer mais grupos de canadianos: há que ver as coisas em perspectiva.
A revista Sábado tem agora um suplemento que fala de comidas e bebidas e noitadas e discos e filmes e locais giros e locais feios e opiniões sobre as mais variadas coisas dos negócios do ócio.
Esta semana, na parte dos restaurantes, fala do Rui dos Leitões nos Fornos. Começa o autor por declarar o seu incontinente amor ao reco e por obviamente confessar que para ele, leitão é na Mealhada.
A seguir tenta dar o dito por não dito e acaba por concordar que há mais onde se coma bom leitão: nomeadamente no Rui.
Não me permito discordar, quanto mais não seja porque comi sempre magnificamente no Rui dos Leitões.
Até aqui tudo pacífico.
Mas depois acontece algo surpreendente.
À frente no texto, o articulista deixa escorregar o pézito e debita algo parecido com “come-se bom leitão na Bairrada, mas também em Cantanhede, em Águeda, em Anadia…”, deixando de fora a Mealhada, local onde, tinha garantido antes, sempre comera o melhor leitão.
Este trecho justifica à exaustão a razão pela qual eu continuo a dizer que não existe essa coisa chamada leitão da Mealhada, justifica a razão pela qual o leitão da Mealhada se perdeu nas bordas das Sete Maravilhas e justifica a razão pela qual a Câmara Municipal da Mealhada tem vindo agora a tentar dourar a pílula em relação à candidatura que apresentou e ao seu mais que previsível fiasco.
A verdade é que ainda existe no nosso país uma grossa fatia de comensais (alguns escrevem até em publicações) para quem Mealhada e Bairrada são uma e a mesma coisa. Confundem-se.
É um pormenor chato, tão chato como os canadianos ou americanos acharem que somos espanhóis, mas se é preciso viver com isso para continuarmos a ser a capital do Leitão assado à moda da Bairrada, que seja.
Era mais bonito se fosse Mealhada, sempre Mealhada, mas a marca não tem essa notoriedade. É preciso trabalhar nesse sentido, mas sempre com muita cautela para não enxotar os fregueses.