Onde antes se lia que a maioria dos incêndios aconteciam porque sim, deve agora ler-se que a maioria dos incêndios acontecem como resultado de comportamentos negligentes ou dolosos. Segundo as palavras sábias de um representante de uma dessas autoridades - "A mata não arde sózinha".
Abriu-se com isto todo um novo mundo de conjecturas. Já é permitido agora perorar sobre as razões que podem levar um individuo a lançar fogo a um matagal. Porque é maluquinho ou porque tem por trás toda uma pérfida industria de pirómanos que engordam a cada hectare ardido.
Eu, que embora só goste de falar do que sei, tenho a mania de ter opinião acerca de tudo e, pior, de expor essa mesma opinião.
Hoje mesmo, em conversa de circunstância, soltei o meu lado de treinador de bancada e vai de teorizar sobre as vantagens que advêm dos incêndios para os "gajos". Entende-se por "gajos", toda a corja que enche os bolsos com a desgraça alheia. Não vou obviamente fulanizar a coisa, mas como estou em modo "treinador", posso sempre utilizar uma frase célebre: vocês sabem a quem me refiro.
Pela frente tinha, sem o saber, o familiar de um piloto contratado para o combate a incêndios, que me confirmou já ter feito conversa semelhante ao tal parente.
Obteve uma explicação curta e grossa: "As empresas que alugam os aviões para o combate aos incêndios, ganham muito mais se não houver incêndios do que se houver."
E afinal tem lógica.
Os aviões são contratados por um preço fixo por um determinado período de tempo e para uma determinada área. Todos os custos correm por conta própria. Incluindo o combustível. Se houver incêndios, há saídas e gasta-se combustível. Se não houver incêndios, fica-se em terra e poupa-se uma pipa de massa.
Riscado o suspeito da minha lista, acabo a pensar com os meus botões que se calhar acabaria por ficar mais barato ao país equipar aviões da Força Aérea para o combate a incêndios (li algures que isso é possível) do que continuar a pagar a terceiros que ganham o mesmo, quer trabalhem quer não.
Afinal o ponto de vista acaba por ser o mesmo.