sábado, 31 de julho de 2010

do Humor


Destrinço indivíduos com piada de individuos com sentido de humor. Alguém tem que o fazer e eu sinto-me hoje habilitado para tanto.
Conheço várias pessoas de cada um dos tipos e realmente, desde que me dediquei a destrinçá-los, a tarefa apresenta-se cada vez mais facilitada.
Por norma, os individuos com piada são bichos de palco, debitam para a audiência e deliciam-se com o resultado da sua performance. Foram tocados pelo dom e usam-no sem parcimónia. Habitualmente envelhecem mal e registam elevadas concentrações de stress em ambientes desfavoráveis. Tirar-lhes o protagonismo acentua-lhes a agonia e azeda-lhes o temperamento.
Com a idade passei a apreciar menos as pessoas com piada que as suas próprias piadas.
Em contrapartida encontro cada vez mais interesse nos denominados individuos com sentido de humor. Há-os com e sem capacidade de exprimir esse mesmo humor mas, característica recorrente e transversal, são de uma bondade inexcedível. Têm capacidades que só a sageza ensina a apreciar.
Os individuos com sentido de humor, são aqueles a quem a natureza privou de asas mas deu barbatanas. Podem não ter o dom de voar e brilhar ao sol, mas conseguem sempre encontrar o caminho até à superfície.

da água

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mealhada linda


Embora tenha assumido sempre que o chacomporradas não é para levar a sério, desde que tomei posse como membro do executivo da Junta de Freguesia da Mealhada que tenho tido um cuidado extremo em tratar de assuntos que possam de algum modo criar qualquer espécie de problema ao orgão de que faço parte.
Desde o primeiro dia acho que o programa Quatro Maravilhas da Mesa da Mealhada é uma excelente ideia. Desdo o primeiro dia acho que é uma iniciativa extremamente válida, um projecto com pés para andar, uma atitude proactiva para com os mais excelentes produtos que o nosso concelho produz.
Tive oportunidade de felicitar pessoalmente o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Mealhada pelo programa, e de também fazer o seu elogio em sede de Assembleia Municipal.
Posto isto, e de modo estritamente pessoal faço este desabafo, sinto-me neste momento extremamente triste.
A Junta de Freguesia da Mealhada prepara-se para encomendar uma remessa de galhardetes. O executivo considerou que seria uma justa homenagem ao que de bom se faz no nosso concelho e um subido orgulho poder ostentar nos ditos galhardetes o selo do programa Quatro Maravilhas da Mesa da Mealhada. Para tal, contactou a entidade responsável, que até ao momento mais não devolveu que desculpas inconclusivas no sentido de ir adiando uma resposta.
Os galhardetes irão obviamente ser feitos. Bonitos, porque ostentarão o brasão da nossa freguesia. Mas, tudo indica, incompletos.

da época balnear 2010

Terça-feira, 27 de Julho de 2010 - Início da época balnear 2010

Quarta-feira, 28 de Julho de 2010 - Período de reflexão

Quinta-feira, 29 de Julho de 2010 - Encerramento da época balnear 2010

domingo, 25 de julho de 2010

da cabeleira ao vento


Entre 10 de Junho e 5 de Outubro de 1997, desloquei-me diariamente com algum espavento num veículo rigorosamente igual (mas em velho) ao da figura e igual, excepto na cor, a um que acabei de ver na TV Turbo.
Datado de 1967, do mesmo ano que a minha própria pessoa, era um veículo fascinante, todo original.
E quando digo todo original, quero dizer que não aparentava ter tido grande manutenção ao longo da sua já longa vida.
A mala só abria quando lhe apetecia, os vidros ora subiam ora não, os travões tinham dias (lembro-me de ter ficado sem travões na descida de Anadia, facto que terá criado alguns cabelos brancos ao meu amigo Mitó, pouco habituado a estas idiossincrasias do veículo), a capota, das raras vezes que foi levantada ameaçava levantar voo e a carroçaria ostentava zonas de ventilação que aparentemente não existiam na origem.
Comprei-o no dia dez de Junho por mil contos (cinco mil euros) e vendi-o no dia cinco de Outubro seguinte por setecentos contos (três mil e quinhentos euros) a um desprovido de juízo, quase tão profundo quanto eu.
Nunca encarei o carro como veículo de colecção e perante o iminente chumbo na inspecção obrigatória de Dezembro seguinte, optei por deixá-lo ir.
Como divertimento bastou-me.
Claro que a notícia de que a família iria começar a crescer me acelerou a decisão de me desfazer do bicho, sob pena de o ver passar a ser o meu único meio de transporte durante o Inverno. Ideia tenebrosa, uma vez que se via a lua através da capota e a Elsa me garantia que filho dela jamais poria o rabo em tal geringonça. Tive pois que vender o emplastro, oferecer um carro novo à família e recuperar o meu fantástico Rover, veículo que me deu tantas alegrias como dissabores. Comprova-se pois a velha máxima que diz que nada há de mais perigoso que um desorientado com dinheiro nas mãos.
Mas por muitos anos que viva, jamais repetirei o prazer de assar o rabo nos bancos de napa preta em pleno Agosto por volta do meio dia ou de ter transeuntes a aplaudirem-me ao passar a ponte de Santa Clara.

da classificação



Pelos meus critérios, apenas duas coisas impediam o restaurante Manuel Júlio de ascender à perfeição:
1.Não estar quinhentos metros mais a sul.
2.Não ter enguias.
Descobri hoje, com expansiva satisfação e justificado deleite, que neste momento apenas uma coisa o impede.
Neste contexto, perfeição é apenas um dos degraus da minha escala privada de classificação de restaurantes que vai de "suficiente para matar a fome" a "suficiente para matar por ele", num total de cento e vinte classificações possíveis.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

do nose-trap


O meu amigo Rui Correia, para informação dos poucos que não o conhecem, é provador.
De vinhos, entenda-se.
E dos bons, tenho-o pelo menos nessa conta.
Um dia, trabalhava eu na escola de hotelaria de Coimbra onde ele era formador de enologia, pediu-me para utilizar os meus bons ofícios no sentido da aquisição de uns copos de prova cega. Copos opacos e pretos.
Afiançou-me que apenas esses copos permitiam uma prova degustativa limpa de ruídos externos.
Garantiu-me que conhecia grandes provadores que utilizando esse tipo de copo já tinham tido dificuldades em distrinçar até se um néctar era branco ou tinto.
Não sei se deixei transparecer, mas no momento apenas pensei uma coisa: "Este esteve a trabalhar toda a manhã e tudo indica que não cuspiu no fim".
O que interessa é que os copos foram comprados, embora ainda hoje não saiba se ele contou aquilo para me convencer ou se é mesmo verdade que, às escuras, branco e tinto é o mesmo.
Realmente, os nossos sentidos completam-se e quando não os podemos utilizar todos, podemos ser enganados.
É essa a essência do "nose-trap", um conceito de bebida que inventei hoje ao final da tarde. Nada mais nada menos que a versão líquida da frase "me engana que eu gosto".
Uma dose de boa tequilla, ou uma boa dose de tequilla, já não me lembro. O dobro da quantidade de "gomme" e o sumo de dois limões bem madurinhos. Bate-se no shaker com imeeeenso gelo e verte-se tudo num copo semelhante ao da foto.
Coloca-se no topo um gomo generoso de pêssego maracotão amarelo (prunus pérsica para os amigos) bem madurinho. Também resulta com pêssego careca que tem outro nome para os amigos, mas que não me lembro.
O gelo adormece o aroma da tequilla (pode ser com vodka, mas eu tenho aqui muita tequilla para gastar), o pêssego liberta os seus aromas inebriantes e o copo concentra esses mesmos aromas.
Resulta que se bebe uma fabulosa composição de bar que ao longo da degustação evolui de um compal de pêssego até uma caipirinha modernaça.
Para resultar, não pode ser bebida com palhinha.




quarta-feira, 21 de julho de 2010

do Melão


1.Tenho uma técnica infalível para escolher melão. Não cheiro, não espremo, não apalpo, não tomo o peso. É uma técnica que desenvolvi ao longo dos anos e que nunca falhou. Com tanta fiabilidade, permito-me até gozar com quem dá voltas e voltas ao fruto.
Hoje (ontem), por impedimento de locomoção, pedi à Elsa para trazer um melão do supermercado. Como não gosto de correr riscos, ensinei-lhe a técnica.
Resultado garantido: um melão doce, firme, compacto como manda o bom gosto.
A técnica?
Fácil.
Apanhar o primeiro que aparecer.

2.Diálogo entre uma funcionária do Intermarché da Mealhada e um estupefacto fornecedor de fruta: "Como é que o senhor põe no caderno de rastreabilidade que o melão é de Almeirim se eles têm todos um autocolante a dizer que são produzidos em Espanha?"
Eu compreendo a ira da moça, só não compreendo que, em face dessa discrepância, o expositor onde estavam os melões tivesse um letreiro enorme onde estava o preço e a frase "Melão de Almeirim".
Bom melão, apesar de espanhol. Comprado recorrendo à minha técnica infalível de escolha.

terça-feira, 20 de julho de 2010

do ISANOS :))


Em termos médios, desde 20 de Julho de 2008, o chacomporradas foi visitado diariamente 103 vezes por 52 pessoas.
Ainda em termos médios, cada um dos visitantes, visitou-nos praticamente duas vezes por dia.
Estou orgulhoso.
O chacomporradas comemora hoje dois anos de existência e mantém intacto o seu objectivo inicial: exercitar o músculo de escrita do seu autor. Nem mais um milímetro que isso.
Os Youtubes, os cartoons, as músicas, as anedotas e os textos citados foram e serão apenas muletas para os momentos de maior preguiça - daí serem tantos.
Durante estes dois anos aconteceram imensas coisas no mundo, tendo, felizmente, a esmagadora maioria passado ao lado do chacomporradas.
E assim continuará a ser.
O chacomporradas é o espelho do seu autor que em momento de exaltação se convenceu que teria algo a dizer à posteridade.
Mantém-se o pressuposto inicial: o chacomporradas, tal como o seu autor, não devem ser levados a sério.
Cumpre ainda informar que, ao arrepio de alguma crendice popular e basta informação científica, a musa inspiradora e primeiro freguês do chacomporradas, o nosso menino(http://chacomporradas.blogspot.com/2008/07/o-menino.html ), continua vivo e rijo que nem um pero.
E como lhe prometi na noite de 19 de Julho de 2008, a sua foto continua na internet.

domingo, 18 de julho de 2010

da Caldeirada


A nossa caldeirada é o expoente máximo da dieta Mediterrânica.
Acho eu.
Os espanhois têm a Zarzuela.
Encantado.
É boa mas choca com a dita dieta: fazem refogados, fritam coisas, juntam farinha. Digamos que a Zarzuela é Mediterrânica, mas do sul, assim meio árabe.
Os italianos têm o Cioppino que é realmente um fabuloso estufado de peixes, mas infelizmente para eles, americano. Um prato de imigrantes. Criado por pescadores italianos em San Francisco. Não conta.
A França tem a Bouillabaisse, donde se destaca a de Marselha, um sumptuoso guisado com tudo o que de melhor o mar pode fornecer. Uma experiência gastronómica de estadão.
Mas sempre um guisado.
Um refogado.
Gorduras saturadas.
Pouco mediterrânico no que a moderna acepção do termo pode conter.
A Grécia e a Turquia não jogam neste campeonato, embora haja quem afiance que a tal da Bouillabaisse tem origem na Grécia.
Quedemo-nos por aqui para não ferir susceptibilidades.
Caldeirada é por cá. E por definição, independentemente do que se lá introduza, tem um método de confecção saudável. Um estufado.
Um estufado é uma cocção em pouca água ou simplesmente nos sucos dos próprios alimentos.
Pode fazer-se caldeirada do que bem nos apetecer: de bacalhau, de raia, de safio, de lulas, de enguias (a minha preferida), de cabrito, de febras de porco...
E quando se lhe chama apenas caldeirada, fala-se de um estufado de vários peixes, preferivelmente peixes rijos e na esmagadora maioria das vezes, batatas.
Uma vez, um pescador experiente disse-me que a diferença entre uma caldeirada boa (de peixe) e uma excelente caldeirada, se resumia a um peixe.
Levei anos a confirmar a sua teoria, mas finalmente assino por baixo.
Hoje resolvi fazer uma caldeirada para o almoço.
Tomate, pimento, cebola e batatas, tudo do quintal.
Coisas frescas do mar: safio, raia, lulas, ameijoas e o tal do peixito que faz toda a diferença - sardinha.
Cobre-se o fundo do tacho com um filme de azeite, rodelas grossas de cebola e pedacinhos de alho. Por cima colocam-se rodelas de batata com não mais que seis ou sete milímetros de espessura.
Espraiam-se os peixes, os maiores em pedaços. A sardinha deve ser, obviamente, amanhada.
O tomate (eu descasco-o) às rodelas e os pedaços de pimento vermelho, verde ou ambos.
Só então o sal.
Eu acrescento uma pitadinha de caril como primeiro toque pessoal, coisa de uma colher de chá.
Tapa-se o tacho e inicia-se uma cozedura lenta. Não deve mexer-se, apenas abanar para soltar alguma rodelita de cebola mais preguiçosa.
Esta cozedura, lenta e demorada e com o tacho bem tapado permite que o vapor obrigue o tomate e o pimento a suarem e a soltarem os seus sucos que escorrem, temperados, e se imiscuem nos aromas delicados dos peixes.
Quando começar a cheirar profusamente. De preferência, bem. Retira-se o tacho do calor, abre-se e ausculta-se. Deve ter já a grande maioria dos alimentos cobertos pelo suco. Se sim, prova-se o molho, rectifica-se de sal caso seja necessário e dá-se o segundo e último toque pessoal. Se não, acrescenta-se um pouco de água, leva-se de novo a levantar fervura, prova-se, rectifica-se de sal caso seja necessário e dá-se o segundo toque pessoal.
Vinagre Balsâmico de Modena, do bom, vindo de Italia, com uma textura que parece caramelo, pegajoso, untuoso. Um fiozinho basta.
Aos menos experientes aconselho que pesquem uma batata para verem se estão já cozidas.
Uma fervidela rápida para ambientar o vinagre e o repouso final de alguns minutos, como recomenda Hervé This, o pai da Gastronomia Molecular.
Três coisas: ingredientes frescos, cozedura muito lenta e toques pessoais.
Tal como a vida!
De "postre", um bolo de chocolate, praticamente galáctico, que a "coisa mailinda do mundo" fez, não fosse eu finar-me com tanta dieta mediterrânica.

sábado, 17 de julho de 2010

da Metro que já subiu



Assistir à queda do Muro de Berlim e à queda da Metro Goldwyn Mayer é muita emoção para uma vida só.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

do Ritual

Em quarenta e dois anos de vida, cortei sempre o cabelo no mesmo sítio.
É que não existe sequer uma vez para servir de excepção.
Há uma regra da vida em harmonia que incita a que se procure um médico, um alfaiate e um barbeiro mais ou menos da nossa idade pois existe a tendência de os mantermos ao longo da vida.
Só falhei no médico - não conheço (e não estou a exagerar) não conheço aquele que é o meu médico de família desde mil novecentos e noventa e seis. E antes deste tive uma médica que também conheci de raspão. Consulto especialistas quando o caso o exige mas mantenho com eles uma relação de pouco apego.
Na alfaiate cumpri a previsão. Embora muito mais velho que eu (já era o alfaiate do meu pai), mantive-me fiel enquanto ele trabalhou. Fiz o desmame para o pronto a vestir atempadamente - ainda mantenho as últimas calças que me fez - mas quando ele morreu já não havia entre nós qualquer vínculo laboral: apenas amizade.
A questão da barbearia reclama outro nível de acompanhamento. É um rito de passagem, o momento em que deixamos de ir ao barbeiro com o pai para irmos sozinhos.
Uma barbearia é um santuário. No meu caso, um santuário onde assumida e despudoradamente se proclamam as inquestionáveis qualidades do PSD e do Sporting (assim mesmo, embora nem sempre por essa ordem), onde se alterna ao longo do dia entre a Antena Um e a Radio Renascença, onde as revistas antigas são sempre a do Expresso e onde, sem que eu me tenha apercebido como, se passou do Comércio do Porto para o Correio da Manhã.
A qualidade do trabalho nunca foi óbice. Tão pouco a ligeireza do artista que faz em cinquenta minutos o que os outros fazem em vinte.
Exigência profissional? Nada disso, que há mais de quinze anos que o meu penteado se chama "Máquina 2".
As coisas mais deliciosas da vida são precisamente as inexplicáveis.
A barbearia está fechada por motivo de doença. Não muito prolongada, exige-se, que o cabelo, o pouco, se encaracola já à volta das orelhas e começa a pedir pente, artefacto que não me lembro de usar, vai para mais de uma vintena de anos.
Não sei que fazer. Sinto-me orfão!
Um sentido desejo de rápidas melhoras, é o mínimo que a situação reclama.






quinta-feira, 15 de julho de 2010

da Lua

(15.07.2010 - Quarto Crescente)

À janela escuto a lua,
E tem sempre uma palavra.
Sussurra,
Conta-me ao ouvido
E ri.
Zelosa, laboriosa,
Nunca falha um compromisso.
É tão bom, é salutar
Ter por amiga,
A lua.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

do lendário


É isto que está a rodar agora no meu carro e garanto-vos que é muito bom. Mesmo muito bom. Destronou o Eric Clapton com o BB King que já por lá andavam há algum tempo.
Estou rendido ao Tigre.
Na fila está o novo "by request" do não menos tigre Paulo Gonzo.
E a FNAC que tem resmas de discos em promoção a rondar os cinco aéreos a peça. E DVD's, muitos de filmes clássicos , também em conta.
Afinal a rebajas não se limitam aos sapatos e à rôpita...

domingo, 11 de julho de 2010

da abnegação


"Pais de deficientes hipotecam casas para construir centro"

Diario de Coimbra 11 de Julho 2010

sábado, 10 de julho de 2010

da vertigem do poder


Quem pode manda.
Quem manda é porque pode.
E quando quem manda mente?
E quando quem manda continua a mentir mesmo perante factos?
E quando quem manda, perante os factos acaba por reconsiderar, embora a contragosto?
E quando quem obedece insiste na sua indignação?
E quando quem manda, parecendo magnânime, propõe discutir o assunto?
Aí; quem obedece, e porque infelizmente já não tem vinte anos e sabe que não é saudável cuspir para o ar, resolve resolver a situação com o mínimo de dano:
-O senhor é meu patrão e eu preciso do emprego, portanto por definição esta discussão nunca será equilibrada. O melhor é esquecermos o assunto e passarmos à frente.
Reduz-se ao mínimo o dano, que mesmo assim desgasta.
Resta contar até dez e fazer como o Peter Pan: pensar em coisas boas e voar.
Ontem foi assim. É raro, mas acontece-me.

terça-feira, 6 de julho de 2010

do Fim

do Chiclómetro

Ora aí está uma coisa simples que é uma grande ideia.
Assim de repente, lembro-me de um milhar de sítios onde se podia colocar um.
Este, o que deu origem a este cartaz, está instalado junto ao Convento de Sta Clara-a-Velha em Coimbra e sobre ele os mentores da ideia escreveram o seguinte:

"Tem sido um verdadeiro sucesso o chiclómetro de Santa Clara-a-Velha.
Chiclet, o terror do Património, assume-se como uma campanha de sensibilização junto dos visitantes, em particular dos mais novos, no sentido de evitar que esse pegonhento material prolifere nas belas ruínas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Ideia do sítio, com design gráfico de estagiários da ESEC e com projecto da Serrelharia do Convento, - verdadeiro parceiro de Santa Clara-a-Velha e de que não nos esquecemos do apoio dado na montagem da exposição de sítio, consubstanciado na disponibilidade do seu proprietário Sr.Miguel. os resultados tem sido muito significativos. Não somos contra as pastilhas elásticas somos contra a sua má utilização!"

domingo, 4 de julho de 2010

da bruma


Quando era miúdo, os Verões de Mira tinham nevoeiro pela manhã.
Os remadores do Clube Náutico atravessavam a Barrinha em esforço furando a bruma e eu, porque não os via, adivinhava-lhes o esforço e sonhava.
As silhuetas recortavam-se em contraluz e eu sonhava ser um dia remador.
Nunca fui.
Anos mais tarde, as noites de Verão da Ribeira de Gaia também tinham remadores e eu adivinhava-lhes o esforço embora mal os visse.
Ouvia-os e pensava que um dia sonhei ser remador e nunca fui.

sábado, 3 de julho de 2010

do incómodo


Envelhecer não me apoquenta.
A sério!
Achei fantástico quando comentei com os meus alunos (adolescentes) que provavelmente iria assistir a um concerto do Eric Clapton e apenas dois sabiam quem raio é o Eric Clapton. Um deles conhecia-o porque se recordava vagamente de um disco velho do pai.
Achei fantástico as minhas sobrinhas, que sempre me trataram por tu, passarem de repente a tratar-me por "o tio".
Acho fantástico quando o meu filho repara que tenho a barriga mais pendurada.
Acho fantástico ver que o cabelo que me falta na cabeça se mudou para as orelhas.
Acho fantástico ter cada vez menos necessidade de dormir.
Acho fantástico ter tantas histórias para contar. E pessoas atentas para as ouvir.
Tenho consciência que não há melhoras, apenas adaptações, e isso não me preocupa absolutamente nada.
No entanto, aflige-me o envelhecimento dos outros.
Ver pessoas que não ficam bem no fato que a natureza talhou para elas, faz-me ter pena.
E tanto me afligem os conhecidos como os desconhecidos.
Ver, como vi ontem num trailer, Bruce Willis a fazer um papel de reformado, destroçou-me.
O filme chama-se "RED" (Retired Extremely Dangerous) e conta ainda com Morgan Freeman (toda a vida foi velho), Helen Mirren (quando fez o Calígula em 1979 já tinha as peles descaídas) e John Malkovich (a calvicie precoce fez dele velho quando ainda era novo).
Bruce Willis, presumo, terá um papel à sua altura que desempenhará de forma brilhante como habitualmente, mas colocá-lo na pele de um reformado, ainda que da CIA, não deixa de ser uma maldade.
Fiquei incomodado.



sexta-feira, 2 de julho de 2010

da importância do zero

(texto recebido por mail)

Uma mulher, executiva de uma grande empresa, faz a sua primeira viagem de negócios ao Rio de Janeiro.
À noite, sentiu-se sozinha e com uma sensação de liberdade que nunca havia sentido antes...
Decidiu chamar uma dessas "empresas de acompanhantes", cujos folders de propaganda estão nas mesas dos quartos de todos os hotéis nas grandes cidades.
Localizou, sem dificuldade, um que oferecia serviço masculino, denominado "ferótico".
Com o encarte nas mãos molhadas de suor pela expectativa discou o número marcado.
- Alô! atendeu uma voz masculina marcadamente sensual.
- Alô. Eu preciso de uma massagem... Não, espera ! Na realidade o que eu quero é SEXO! Uma grande e duradoura sessão de sexo, mas tem de ser agora! Estou falando sério! Quero que dure a noite inteira! Estou disposta a fazer de tudo, participar de todas as fantasias que vocês inventarem. Traga tudo o que tiver de acessórios, algemas, chicotes, consolos, pomadas, vibradores, e quero ficar a noite inteira fazendo de tudo! Vamos começar passando geléia no corpo um do outro, depois quero que você me grude na parede... estou disposta a fazer de tudo e topo todas as posições: frango assado, rã com câimbra, canguru perneta, folhinha-verde, vaca atolada, saquinho de chá, helicóptero...
Ou tu tens alguma idéia mais tesuda? O que tu achas...?!
- Bem, na verdade me parece fantástico. Mas aqui é da portaria do hotel... Para chamadas externas a senhora precisa discar o zero primeiro...!!!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

da Obra


Dezoito de Junho foi há quase duas semanas. Desde esse dia tenho-me entretido a ler o que posso acerca da vida de José Saramago. Mais informado, posso repetir, agora com propriedade, que continuo a não nutrir simpatia pela pessoa. Nem sequer na perspectiva das convicções.
José Saramago não se enquadra naquilo que para mim é uma boa pessoa. E aí, repito o que escrevi já não sei onde, a culpa é dele. É dele porque nesta coisa dos juízos de carácter, eu sou muito senhor do meu nariz: se eu não acho que fulano é boa pessoa, é porque realmente não o é.
Lavrada a declaração de intenções, passemos aos factos.
José Saramago é, sem sombra de dúvida, o maior escritor de lingua portuguesa da actualidade. Não o posso situar no sec XX porque começou a escrever (de forma profissional) já o século ia avançado e também não o posso situar no sec XXI porque isso seria cortar as pernas aos muitos talentos que ainda poderão despontar.
Comecei vários livros do escritor, mas não consegui terminar nenhum. Aí, e mais uma vez me repito, a culpa é minha. Saramgo construiu uma obra reconhecida como sendo de superior qualidade por milhões de pessoas em todo o mundo. Não podem estar errados todos quantos choraram a sua morte. A Academia de Letras do Brasil, o maior país da lusofonia concedeu-lhe três dias de luto.
Só a história cimentará o lugar que a sua obra merece. Nós, que fomos contemporâneos do homem, não teremos capacidade para descolar um do outro.
O tempo sim, o tempo fará a destrinça.
Florbela Espanca era uma tarada.
Eça de Queirós era um snobe.
Barbosa du Bocage era um debochado.
Fernando Pessoa, pelo menos bêbedo, era.
Todos nomes maiores das nossas letras. Todos permitiram que a vida lhes invadisse a escrita. E a vida, essa que hoje pode ser um ferrete cravado na memória de José Saramago, a seu tempo acabará por lhe enriquecer a obra como antes enriqueceu a de tantos outros.