quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

da vaidade

(George Clooney sem "maquiagem")

Um avião da Pacific Airlines despenha-se em pleno oceano. Salva-se uma hospedeira e um passageiro português. Conseguem nadar até uma ilha paradisíaca deserta e ficam lá vários meses à espera de ajuda. Com o passar do tempo acabam por ficar íntimos.
Um dia, o português acerca-se da moça com umas barbas de coco na mão e pede-lhe para fazer com elas um bigode. A moça coloca o "bigode" e assume um ar masculino.
Imediatamente o português se encosta a ela com ar malandro e diz:
-Manel, nem fazes ideia da gaja que eu ando a comer. Uma hospedeira!

É verdade. Nós, portugueses, somos acima de tudo vaidosos. Somos vaidosos a vestir, a comer e a mostrar; muitas das vezes mais do que podemos.
Somos o povo da Europa com maior percentagem de telemóveis per capita - só não o somos em relação ao iPhone porque espalhou-se o boato que o aparelho enquanto telefone  não seria grande coisa e nós consideramos inútil ter o telefone mais "pipi" do mundo e não poder telefonar aos amigos quando nos apetece a contar que o temos.
Somos o único povo da Europa dita civilizada que faz tuning em carros com motor de mil centímetros cúbicos e cinquenta e cinco cavalos de potência. Carros que com o peso dos apendices aerodinâmicos fazem mais barulho mas andam menos.
E agora somos também os maiores consumidores de "nescafé chique" de toda a Europa.
Verídico!
É em Portugal que a Nestlé vende mais cápsulas "Nespresso" em toda a Europa.
E logo no país onde, a seguir à Itália, se bebia o melhor café expresso do mundo.
Que miséria...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

do rescaldo


O Dr Miguel Sousa Tavares deu-me ontem o prazer de dizer que me despreza.
Disse-o fazendo o costumeiro esgar de quem tem um caramelo de Badajoz colado ao céu da boca, o que quer dizer que o seu desprezo não é postiço.
Infelizmente para o Dr Miguel Sousa Tavares eu não lhe dou o prazer de o desprezar. Nem poderia.
Jamais esquecerei o esforço que o nosso MacGyver da comunicação fez em prol da candidatura da Mata Nacional do Bussaco enquanto candidata às Sete Maravilhas de Portugal. Se o Bussaco não ganhou não foi por falta de empenho de tão fiel e abnegado "padrinho". Felizmente que não se absteve nessa altura, coisa que o próprio desprezaria fazer.
Eu abstive-me no Domingo passado. Eu e mais de cinco milhões de portugueses.
Aparentemente, tudo um bando de fascistas que reza diariamente cinco terços em prol do proverbial regresso de sua santidade o Senhor Doutor Oliveira Salazar.
Mais do que pelas razões que elenquei, abstive-me porque não reconheço a necessidade da existência de um Presidente da República nas condições em que o  temos. As constantes humilhações a que o actual detentor do cargo foi sujeito durante o primeiro mandato já deveriam ter suscitado uma discussão acerca das competências do injustificadamente apelidado de mais alto magistrado da nação. Poucas competências, algumas de indole folclórica.
Resta a capacidade para dissolver o Parlamento, competência que eu pessoalmente jamais entregaria a uma só pessoa. É da essência da democracia que a provedoria do poder seja efectuada pelo povo.
Dito tudo isto, resta-me congratular com o facto de que afinal na Madeira existe democracia e que, contrariamente ao que antes se supunha, as mesas de voto não estão equipadas com webcams directamente ligadas ao laptop do Dr Alberto João Jardim.  

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

da abstenção higiénica


Domingo há eleições presidenciais.
Eu não vou votar.
Não sou obrigado.
Sinto-me defraudado pela democracia.
José Manuel Coelho e Defensor Moura ousaram usurpar o lugar de Manuel João Vieira e eu só a Manuel João Vieira reconheço autoridade para usurpar o lugar de Manuel João Vieira.
Francisco Lopes sustenta a sua argumentação na única doutrina política que demonstrou na prática ser desprovida da capacidade real de poder ser posta em prática. Um exercício inútil, pois.
Fernando Nobre devia ter juízo. É prestar um serviço à Humanidade não o deixar persistir no erro. Que volte a fazer o que sabe fazer tão bem e se deixe de alucinações.
Manuel Alegre acompanha mal. Aceitar ser apoiado pelo Governo nesta altura do campeonato é desprestigiante para qualquer pessoa.
Cavaco Silva encarnou novamente na Santinha da Ladeira e eu, francamente, não tenho pachorra.
Viva o livre-arbitrio.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

do sentido da vida



One Week é o título original. Não sei como se chamou em Portugal ou sequer se por cá passou.
Como todas as coisas simples da vida, é um filme bonito.
Muitíssimo bonito.

domingo, 16 de janeiro de 2011

da demagogia


O grupo parlamentar do PS na Assembleia da República propôs a semana passada que se substituissem as garrafas de água que os deputados bebem no hemiciclo por água da torneira.
Segundo os signatários, adviria daí uma poupança suficientemente grande para justificar o facto do assunto ser levado a plenário.
A proposta foi chumbada após ouvida a administração da AR. 
Aparentemente poupar-se-ia na água e proteger-se-ia o ambiente, mas tal medida obrigaria a um investimento em material, à contratação de pessoal e à realização de obras pois não existe onde lavar o vasilhame. 
Por enquanto não é viável.
Compreensível.
...
É nesta altura que se esperaria que alguém apresentasse uma proposta condizente com a tal poupança expectável em relação ao custo da água. Pelo menos em relação ao custo.
Qualquer coisa como: "Se realmente a água representa um custo assinalável (eu acredito que sim) porque não instalar umas máquinas de vending e solicitar aos senhores deputados que paguem as ditas garrafinhas do próprio bolso?"
Isso é que era estar a agir em consonância com o aperto de cinto que (alguns) experimentam.
Estranhamente, ninguém quis pegar no assunto.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

da necrofilia

(Texto enviado pelo meu amigo Carlos Diogo) 

Um casal fez um acordo que se existisse reencarnação, o primeiro a morrer informaria o outro como é que era.
O marido foi primeiro, contactou a mulher e contou-lhe:
"Bem, levanto-me cedo e faço sexo.
Tomo o pequeno
-almoço e vou para o campo de golfe.
Faço mais sexo, apanho sol e faço sexo mais algumas vezes.
Depois almoço (tu gostarias, muitas verduras). Mais sexo, um passeio pelo campo de golfe e mais sexo o resto da tarde.
Depois do jantar, volto ao campo de golfe e faço mais sexo até anoitecer.
Depois durmo muito bem para recuperar e no dia seguinte recomeça tudo igual outra vez.

A mulher pergunta: "Estás no Paraíso?"
"Não, agora sou um coelho e estou no Algarve."

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Bullit



A história é fraquita.
Tenho para mim que Steve McQueen, já uma estrela maior à época, aceitou participar apenas para poder disfrutar da famosa cena de perseguição automóvel. Conforme era seu hábito, McQueen não terá utilizado duplos.
A cena da perseguição, que começa com um irreverante Ford Mustang GT 390 Fastback a tentar fugir ao fabuloso Dodge Charger 440 e termina com os papeis trocados, serve ainda hoje de bitola a todas as cenas semelhantes que se possam filmar.
A diferença entre a performance dos dois carros é colossal. Tão colossal, que foram instalados pneus muito mais finos no Dodge que no Mustang para conseguir de algum modo equilibrar as coisas. São dois carros de galáxias diferentes: o Dodge era herdeiro de uma linhagem da fabulosos Muscle Cars ao passo que o Ford tinha o infame epíteto de ter ditado o início do fim dos mesmos Muscle Cars. Consta que o Dodge Charger tinha tanto torque que conseguia desfazer pneus em segunda velocidade.
Claro que a história foi mais simpática com o Mustang, mas o Dodge Charger era um carro fabuloso. Mais tarde foi recuperado como General Lee da série os Três Duques e mais tarde ainda para a saga Blade.
Bullit ganhou apenas um Oscar pela montagem embora estivesse também nomeado para o som. Som esse que também ajudou Steve McQueen. Durante a montagem, o som ensurdecedor do Dodge foi praticamente abafado enquanto que o cantar esganiçado do Ford foi ampiado.
Peter Yates, o realizador de Bullit, morreu ontem com oitenta e um anos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

da pintura


Morreu Malangatana.
Era um homem puro e isso vale por quantos prémios e doutoramentos Honoris Causa possam exisitir no mundo.
Mais que a obra, apreciava-lhe a forma de estar. A forma de entender o mundo.
Pessoalmente, apenas conheço nas artes um caso semelhante: Pedro Paixão.
Une-os a língua, uma certa superioridade não cultivada e um fumo de sobrenaturalidade. Nunca me pareceram deste mundo.
Bem hajas, mainato.

das previsões para 2011

dos livros

Ontem fui à Bertrand trocar um livro.
Estive mais de uma hora a consultar obras, a ler prefacios, a estudar pós-facios, a prescrutar lombadas.
No final, saí com um crédito debaixo do braço.
Espero sinceramente que o defeito seja meu.

domingo, 2 de janeiro de 2011

das Janeiras


Cá por casa encerram-se as hostilidades festivas com um almoço no dia 2 de Janeiro. É o aniversário do meu sogro que simpáticamente se chega à frente sem sequer se dar ao trabalho de escolher o sítio- vai e paga. E atura as filhas, que os genros e os netos são pacíficos.
Hoje fomos ao Rocha e comemos, como habitualmente, muitíssimo bem.
A meio da refeição, com a sala completamente cheia, ouviu-se música.
Sem alarido, um grupo tinha-se instalado num dos cantos e cantou-nos as janeiras, acompanhado de acordeão, adufe, cavaquinho e bandolim.
Mal se ouviam.
A esmagadora maioria dos comensais não se dignou parar de falar, de rir, de lutar com os talheres, de bater com os copos. Senti-me ultrajado. Não era um grupo contratado, era o Coral Magister que faz habitualmente este número de forma gratuita o que só lhe cai bem a todos os títulos. Parar para os ouvir não requeria muito esforço, aplaudir seria apenas reconhecer-lhes o esforço, mas nem isso se dignou fazer uma larga maioria das pessoas.
Grunhos!
O nariz enfiado na gamela e a assunção de que existe uma estirpe de portugueses que quando mastigam, encerram os ouvidos.
No final fez-se o peditório da praxe e o tilintar do saco deu para perceber que muitos dos carros que se encontravam no parque já viram melhores donos. Ou que os donos já viram melhores tempos. Ou eram simplesmente cidadãos mal educados a quem a vida tem sorrido. Gente pequena.