sexta-feira, 29 de abril de 2011

do...


Filme do dia.
Ternurento, sem ser lamechas.
Gostei.
Recomendo.

da visão que tenho Onde m'encontro e da Luz polarizada


Na vida, todos temos as nossas próprias definições.
Coisas íntimas.
Conceitos que inventámos, fruto da nossa experiência, e que apenas a nós dizem respeito.
Eu tenho muitas.
Desde músicas que me definem coisas a cheiros que fazem presenciar estados de alma ou episódios marcantes.
Há muitos anos, provavelmente há trinta e cinco, trinta e seis anos, a televisão passou uma campanha que tentava sensibilizar para a luta contra o cancro. Era um spot do qual não me lembro na totalidade, mas que a dada altura apresentava uma senhora a olhar por uma janela enquanto lá fora chovia.
Era tudo cinzento.
Tudo muito soturno, de um dramatismo teatral, ampliado por um som melancólico de piano que tanto podia ser Chopin como Bartok.
Essa é a minha definição pessoal de tristeza.
Não apenas da tristeza destruidora, mas da tristeza redentora, da tristeza catártica.
Porque para mim, a tristeza é um profundíssimo sentimento. Não é obrigatoriamente má.
Hoje, onde me encontro, tenho uma janela e lá fora chove.
E embora a luz esteja polarizada e a natureza tenha a mais fiel das cores.
E embora haja luz, muita luz, estou triste.
Não há razão para isso ou posso apontar todas as razões do mundo: é-me indiferente.
Estou triste. Avassaladoramente triste.
Mas não daquela forma destruidora.
Apenas triste.
Eu e a senhora do spot publicitário que guardo na memória há mais de trinta anos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

do dia em que o Rei faz anos


Não amo o Rei.
Tenho por ele um reverêncial respeito, ditado mas não obrigado, pelo convívio íntimo de vinte anos com quem o ama.
Isso marca. Isso abanou e corroeu as fundações do meu cinismo face ao Rei. Não por ser o Rei, mas porque eu jamais assim me entreguei: cumpre-me ser do contra.
Só que a idade é um calhau enfiado dentro do mais apertado dos nossos sapatos. A vida amacia-nos o lado macio e endurece-nos o lado ranhoso. E finalmente assumo que, embora por vezes faça por não o parecer, eu sou um ranhoso postiço.
Com o tempo, acabarei por amar o Rei, quanto mais não seja porque quem eu amo, sempre o amou.
A comoção que não deixo de sentir, ainda fraquinha é certo, escondida, quando vejo a vassalagem que um povo inteiro de um país enorme, presta ao Rei, é uma comoção genuína. É a comoção que obrigatoriamente todos deveríamos ter perante a força do amor.
Tenho pena de ainda não amar o Rei.
O Rei faz hoje setenta anos.
Para sempre!