segunda-feira, 18 de maio de 2009

das Latrinas

Não sei se pela diminuição da mancha florestal se pelo medo do nemátodo do pinheiro ou outras bichezas autóctones, cada vez é menos comum o viandante deste país atrever-se a aliviar a tripa no meio do mato.
Dando substância a esta constatação, a maior queixa dos peregrinos que até ao pretérito dia 13 rumaram a Fátima, não foram as bolhas, não foram as artroses, não foram os joanetes, foi precisamente o ostracismo a que foram votados ao longo da jornada pelos donos dos cafés, restaurantes, tascas e similares.
O maior entrave ao percuro resumiu-se então a um letreiro -"WC avariado"- sinal que aumentou, e muito, as provações a que foram sujeitos os peregrinos.
Não tenho especial apreço por quem castiga o corpo para pagar promessas, mas respeito quem pratica tais actos medievais em nome de uma fé que não lhos pede. Relembro que a Igreja Católica não promove estas procissões.
Mas voltemos ao foro da defecação.
Eu compreendo perfeitamente os donos dos cafés que fecham as portas das instalações sanitárias. Só quem não trabalha no ramo é que não sabe o transtorno em que se torna o simples facto de possuir a única instalação sanitária pública numa zona de grande afluência. É que além do mais, o utente de tais serviços, às vezes consegue produzir cenários dantescos entre-muros: verdadeiras obras-primas do auto-expressionismo, habitualmente repugnantes para o freguês seguinte.
Ser dono de café, por exemplo no Largo da Portagem em Coimbra, onde desaguam todas as excursões que visitam a cidade e onde a edilidade fechou há mais de vinte anos a sentina existente, é uma enorme provação. Chegam a entrar dezenas de clientes seguidos para utilizarem o WC. Utentes que entram mudos e partem calados sem gastarem um centimo e muitas vezes abrindo a boca apenas para se queixarem da limpeza de um serviço ao qual não deviam ter direito.
As autarquias têm obrigação de garantir este tipo de serviço: seja em instalações vigiadas (podiam criar com isso um ou mais empregos) seja em instalações automáticas. Infelizmente os estabelecimentos de restauração e bebidas é que têm que garantir esse serviço público e enquanto continuarem a fazê-lo nada mudará.
É pena que as autarquias não tenham a mesma política para os anúncios luminosos que ajudam a iluminar as ruas das nossas cidades e que, mesmo poupando a factura da electricidade da edilidade, continuam a ser taxados de forma perfeitamente arrogante.
Idiossincrasias.
E porque não atrever-se o Santuário de Fátima a fazer um pouco de caridade cristã e plantar alguns desses equipamentos automáticos nas principais rotas percorridas pelos peregrinos. Porque embora não promova o flagelo, o Santuário arrecada (com um grande ALEGADAMENTE) cerca de, fala-se, cem milhões de euros por ano.

7 comentários:

  1. "mas respeito quem pratica tais actos medievais em nome de uma fé que não lhos pede"

    Seja honesto! É mais insultiosa esta expressão do que um simples "não concordo e acho ridículo!".
    Não pratico a peregrinação, não sou católico sequer, mas conheço os seus resultados e se quiser ter abertura de espírito e recolher alguns testemunhos vai-se surpreender!

    Quanto a essa conversa de que a igreja não "pede" não é totalmente honesta!

    Já agora... E se for pelos Caminhos de Santiago?

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  2. Mas eu não acho ridículo. Nunca acho ridículo qualquer gesto feito por vontade própria. Permito-me apenas não apreciar.
    Adoro uma boa polémica mas não vou alimentar esta.
    O cerne deste post é a questão dos WC, os peregrinos só foram para aqui chamados porque foram eles quem reclamou. Reclamaram e têm razão: têm tanta razão como os donos dos cafés que fecham as casas de banho.

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  3. Caríssimo Adré Melo,
    Aproveite estar por estes lados e dê uma vista de olhos nos banners de publicidade.
    O dinheiro angariado será efectivamente utilizado para ajudar uma instituição do nosso concelho. Basta abrir...

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  4. Compreenda que "medieval" é um adjectivo no mínimo forte! Como hoteleiro devia ter uma sensibilidade diplomática mais apurada penso eu. Mas também posso estar a ser exagerado...

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  5. A Igreja é uma Instiutição que só está preparada para arrecadar e não para dar...

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  6. Concordo com o facto das condições não serem, de facto, as melhores para os peregrinos em relação às ditas necessidades e que os estabelecimentos não têm que ser o cano de esgoto de toda esta marcha da fé. Mas desviando um pouco o tema só quero deixar registado que a minha associação ( associação portuguesa de podologia) mais uma vez efectou um serviço público ao apoiar os peregrinos com um camião tir com diversas "boxes" de tratamento. Só é pena que continuemos às 15 anos sem competências profissionais aprovadas por força de um lóbi que os sucessivos governos se ajoelham e não conseguem impor seja o que for...

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  7. Caro Luis Vigário o que funciona bem (infelizmente) em Portugal é o Loby dos pedófilos..

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