sexta-feira, 10 de setembro de 2010

do Balcão


O balcão é íntimo.
É aconchegado.
Não existe melhor companhia para um repasto ligeiro que a madeira bem tratada de um balcão.
Por vezes, faz jeito ter do outro lado um empregado que nos ouça só por ouvir, mas na maioria dos casos, basta o balcão.
Uma cadeira cómoda, sem ser perigosa, e espaço para acomodar as pernas também é fundamental.
Imprescindível, uma boa barra para descansar os pés e ajudar à subida e descida.
Se não for pedir muito, uma luz baixa. Só para nós.
O Gambrinus é o melhor balcão do mundo (ponto final).
Passemos à frente.
De miúdo, e porque o balcão nos faz sentir homens (ali estamos por nossa conta), de miúdo lembro-me do balcão da Centenário, em Aveiro, memorável na sopa do mar e numa sobremesa do mais comum que há (flan com merengue por cima) mas que me parecia, ao tempo, divina.
Lembro-me de mais dois ou três balcões onde comi pregos com o meu pai em várias cidades de norte a sul e especialmente do Snack Bar Sotavento, em Albufeira, nos finais de setenta. Era Albufeira ainda uma vilória de pescadores com cães vadios e potes de barro da pesca do polvo espalhados pela praia. E o Sotavento era uma casa moderna, com um balcão em inox e hordas de ingleses que bebiam sangria. Era fantástico deixar as coisas na praia, abancar no balcão com os pés pendurados, comer frango de churrasco com batatas e salada e um sumol.
Um sumol por dia.
No Porto, lembro-me do balcão da Gambamar, a perder de vista, das mesas de marisco no Capa Negra (tenho um episódio negro da minha vida que envolve uma dessas mesas e alguns litros de cerveja, mas agora não é relevante) quando me sentava ao balcão a comer os maiores rissois do mundo e do balcão da Galiza onde comi algumas das francesinhas mais memoráveis.
Um parentesis para o John Bull em Cascais onde nunca comi, mas ao qual encostei muitas vezes a barriga para beber uma Guinness enquanto o Sr Joaquim Couto, proprietário do bar (à época) e mealhadense de gema, se aquecia junto à lareira naqueles fins de tarde de Inverno em que a marginal parecia mágica e o oceano parecia louco.
Em Coimbra há um balcão: o da Munich.
Hoje visitei-o. Desta vez numa quase visita de médico.
Foram camarões da costa que brilhavam de frescura, ostras que só pecaram por não terem pimenta em grão para moer (isto para não falar das torradinhas de pão escuro com manteiga que só o Gambrinus tem), percebes irrepreensíveis e um prego no pão que acabou por não aparecer porque o cozinheiro só entrava às seis e antes disso recebi um telefonema a requisitar os meus serviços com certa urgência.
Menos bom só a cerveja que, desgraçadamente, continua a ser Sagres.
Adoro balcões.
Penso que dá para perceber.

2 comentários:

  1. Muito bem escrito. Concordo e partilho este teu gosto.
    Conheço alguns desses balcões que me serviram de companhia em muitas noites e dias de trabalho.

    Abraço

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  2. Não tenho o hábito dos balcões. Mas com estas tuas vivências, penso que vou experimentar!
    em Coimbra há só um?

    Albufeira ainda é uma vilória de pescadores com cães vadios, embora já não encontre os potes de barro da pesca do polvo espalhados pela praia. Provavelmente não passo na mesma praia.
    De tempos a tempos torna-se algo parecido com uma metrópole!

    GA

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