sexta-feira, 19 de novembro de 2010

da Formosura



Não tenho por que negar. A ideia foi efectivamente minha e na altura até me pareceu uma excelente ideia.
Só pedi ajuda para a marcação da coisa porque a sorte me tem permitido não ter necessidade de saber mexer-me dentro dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Munido da competente documentação, rumei à consulta de controlo da obesidade.
Piso seis, endocrinologia, controlo da diabetes.
Aparentemente, por um provável erro de casting, ou talvez não, a primeira abordagem que me foi feita foi precisamente essa: "O senhor é aquilo que nós consideramos um pré-diabético e como tal vai imediatamente falar com uma nutricionista. Entretanto vou pedir-lhe que faça este exame para despistarmos qualquer problema de tiróide. Quando cá voltar para a consulta de controlo de obesidade daqui a quinze dias, espero que mais magro, não se esqueça de trazer o resultado do exame".
Isto foi há três semanas.
Na terça-feira apresentei-me, aí sim, para a consulta de controlo de obesidade. O resultado do exame da tiroide em envelope fechado e pouquíssima motivação.
Mandaram-me esperar na "sala".
A "sala" era um amontoado de gordos e gordas. Um ambiente pesado, no sentido figurado e também no sentido literal. Egos cabisbaixos de quem se prepara para se tentar despedir dos quilos, das banhocas, dos pneus, amigos dedicados de tantos anos, partes de nós que cresceram connosco...
Ninguém diria que ali se encontravam pessoas em busca de uma vida mais saudável. Se era a cura que por ali se buscava, não parecia que a cura fosse a cura para o nosso mal.
Nada disto batia certo com as imagens dos programas do Dr. Oz onde americanos com trezentos quilos emagrecem ao som das músicas da Olivia Newton-John.
Por ali havia tristeza.
Do sítio onde me encontrava, podia ver o interior da recepção. Por cima do ecran do computador, alguém colocou uma imagem do Brad Pitt - provavelmente para a funcionária poder lavar os olhos do drama que se desenrola à sua volta.
Senti-me patético ao imaginar a rotina da funcionária: dois gordos deprimidos, uma olhadela ao Brad Pitt, mais dois gordos contrariados, mais um Brad Pitt.
Apoderou-se de mim tal angústia que não aguentei: cobardemente, abri o envelope do exame à tiroide, vi que não tinha nenhum problema e, demonstrando uma enorme falta de respeito por quem me tinha arranjado a consulta, fugi...
Não tenho desculpas: estou de novo por minha conta.

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