terça-feira, 2 de novembro de 2010

da tristeza



A nossa vida é uma coisa complexa que por vezes parece ter vida própria. Mesmo sem nenhum esforço da nossa parte, encarrega-se de nos proporcionar momentos tristes e alegres.
Depois nós encarregamo-nos de arranjar os outros que ficam pelo meio: tristes, alegres e assim assim.
Temos o hábito arrogante de achar que se deve dar mais valor aos momentos alegres que aos tristes e eu sinceramente acho isso muito feio. Acho que cada um deve dar-se ao trabalho de se adaptar como queira à vida que lhe calhou em sorte.
Tristeza e alegria não deveriam ter peso na conta-corrente da felicidade. Há pessoas tristes que são felizes. Dá vontade de acrescentar "felizes à sua maneira" mas isso é também uma atitude arrogante: todas as pessoas são felizes ou infelizes à sua maneira porque não há formulas para se ser feliz ou infeliz.
Para quem, como eu, não perde tempo a tentar adivinhar se existe ou não vida depois da morte, hoje é um dia triste.
Não é um dia infeliz, é um dia assumidamente triste. 
Independentemente de todos os dias podermos ter momentos em que nos lembramos dos que tiveram importância na nossa vida e que já nos deixaram, é simpático que alguém tenha instituído um dia inteirinho para isso.
Hoje corri a lista completa e realmente fiquei triste. Fiquei triste por mim e por eles que já não podem usufruir da maravilha que é estar vivo. Aliás, fiquei triste apenas por eles - devo-lhes isso.  
Tudo o resto se esbate perante a grandeza desta brutal verdade e só nos resta ficarmos tristes.
Despudoradamente tristes.
Libertariamente tristes.
E felizes por ainda nos ser concedida a capacidade de podermos ficar tristes.

1 comentário:

  1. Belo ensaio em poucas palavras! Penso apenas que o facto de relevar-mos os momentos mais alegres ajuda-nos a ultrapassar os mais tristes.
    Mesmo correndo o risco de adulterar a imagem de quem parte, prefiro lembrar os momentos alegres e deixar cair os tristes.
    Ajuda-me a ser mais feliz.
    Abraço

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