Na vida, todos temos as nossas próprias definições. Coisas íntimas.
Conceitos que inventámos, fruto da nossa experiência, e que apenas a nós dizem respeito.
Eu tenho muitas.
Desde músicas que me definem coisas a cheiros que fazem presenciar estados de alma ou episódios marcantes.
Há muitos anos, provavelmente há trinta e cinco, trinta e seis anos, a televisão passou uma campanha que tentava sensibilizar para a luta contra o cancro. Era um spot do qual não me lembro na totalidade, mas que a dada altura apresentava uma senhora a olhar por uma janela enquanto lá fora chovia.
Era tudo cinzento.
Tudo muito soturno, de um dramatismo teatral, ampliado por um som melancólico de piano que tanto podia ser Chopin como Bartok.
Essa é a minha definição pessoal de tristeza.
Não apenas da tristeza destruidora, mas da tristeza redentora, da tristeza catártica.
Porque para mim, a tristeza é um profundíssimo sentimento. Não é obrigatoriamente má.
Hoje, onde me encontro, tenho uma janela e lá fora chove.
E embora a luz esteja polarizada e a natureza tenha a mais fiel das cores.
E embora haja luz, muita luz, estou triste.
Não há razão para isso ou posso apontar todas as razões do mundo: é-me indiferente.
Estou triste. Avassaladoramente triste.
Mas não daquela forma destruidora.
Apenas triste.
Eu e a senhora do spot publicitário que guardo na memória há mais de trinta anos.
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