terça-feira, 19 de abril de 2011

do dia em que o Rei faz anos


Não amo o Rei.
Tenho por ele um reverêncial respeito, ditado mas não obrigado, pelo convívio íntimo de vinte anos com quem o ama.
Isso marca. Isso abanou e corroeu as fundações do meu cinismo face ao Rei. Não por ser o Rei, mas porque eu jamais assim me entreguei: cumpre-me ser do contra.
Só que a idade é um calhau enfiado dentro do mais apertado dos nossos sapatos. A vida amacia-nos o lado macio e endurece-nos o lado ranhoso. E finalmente assumo que, embora por vezes faça por não o parecer, eu sou um ranhoso postiço.
Com o tempo, acabarei por amar o Rei, quanto mais não seja porque quem eu amo, sempre o amou.
A comoção que não deixo de sentir, ainda fraquinha é certo, escondida, quando vejo a vassalagem que um povo inteiro de um país enorme, presta ao Rei, é uma comoção genuína. É a comoção que obrigatoriamente todos deveríamos ter perante a força do amor.
Tenho pena de ainda não amar o Rei.
O Rei faz hoje setenta anos.
Para sempre!

 

2 comentários:

  1. Tu és mesmo muito especial. Gosto de ti genuinamente.

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  2. Mais um texto muito bom!
    Estão a ficar muito espaçados (no tempo)!
    Gostava de os ver mais frequentes!
    Um grande abraço e uma Boa Páscoa para todos vocês!

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