Não amo o Rei. Tenho por ele um reverêncial respeito, ditado mas não obrigado, pelo convívio íntimo de vinte anos com quem o ama.
Isso marca. Isso abanou e corroeu as fundações do meu cinismo face ao Rei. Não por ser o Rei, mas porque eu jamais assim me entreguei: cumpre-me ser do contra.
Só que a idade é um calhau enfiado dentro do mais apertado dos nossos sapatos. A vida amacia-nos o lado macio e endurece-nos o lado ranhoso. E finalmente assumo que, embora por vezes faça por não o parecer, eu sou um ranhoso postiço.
Com o tempo, acabarei por amar o Rei, quanto mais não seja porque quem eu amo, sempre o amou.
A comoção que não deixo de sentir, ainda fraquinha é certo, escondida, quando vejo a vassalagem que um povo inteiro de um país enorme, presta ao Rei, é uma comoção genuína. É a comoção que obrigatoriamente todos deveríamos ter perante a força do amor.
Tenho pena de ainda não amar o Rei.
O Rei faz hoje setenta anos.
Para sempre!
Tu és mesmo muito especial. Gosto de ti genuinamente.
ResponderEliminarMais um texto muito bom!
ResponderEliminarEstão a ficar muito espaçados (no tempo)!
Gostava de os ver mais frequentes!
Um grande abraço e uma Boa Páscoa para todos vocês!