sexta-feira, 13 de maio de 2011

do pormenor


Ultimamente tenho trabalhado no hotel com alguns grupos de estudantes canadianos que, num esforço para serem simpáticos, ensaiam algumas palavras na nossa língua materna, o castelhano.
Dizem essencialmente “gracias” e “hola!”.
Invariavelmente, pergunto-lhes se são americanos pois sei que isso os deixa aborrecidos.
Perante o obvio “no, we’re canadians”, explico-lhes que nós também não somos espanhóis e que se querem ser simpáticos connosco sempre podem aprender umas palavritas em português.
É um pormenor, um pormenor bastante chato, mas não suficientemente valioso para me levar a não querer mais grupos de canadianos: há que ver as coisas em perspectiva.
A revista Sábado tem agora um suplemento que fala de comidas e bebidas e noitadas e discos e filmes e locais giros e locais feios e opiniões sobre as mais variadas coisas dos negócios do ócio.
Esta semana, na parte dos restaurantes, fala do Rui dos Leitões nos Fornos. Começa o autor por declarar o seu incontinente amor ao reco e por obviamente confessar que para ele, leitão é na Mealhada.
A seguir tenta dar o dito por não dito e acaba por concordar que há mais onde se coma bom leitão: nomeadamente no Rui.
Não me permito discordar, quanto mais não seja porque comi sempre magnificamente no Rui dos Leitões.
Até aqui tudo pacífico.
Mas depois acontece algo surpreendente.
À frente no texto, o articulista deixa escorregar o pézito e debita algo parecido com “come-se bom leitão na Bairrada, mas também em Cantanhede, em Águeda, em Anadia…”, deixando de fora a Mealhada, local onde, tinha garantido antes, sempre comera o melhor leitão.
Este trecho justifica à exaustão a razão pela qual eu continuo a dizer que não existe essa coisa chamada leitão da Mealhada, justifica a razão pela qual o leitão da Mealhada se perdeu nas bordas das Sete Maravilhas e justifica a razão pela qual a Câmara Municipal da Mealhada tem vindo agora a tentar dourar a pílula em relação à candidatura que apresentou e ao seu mais que previsível fiasco.
A verdade é que ainda existe no nosso país uma grossa fatia de comensais (alguns escrevem até em publicações) para quem Mealhada e Bairrada são uma e a mesma coisa. Confundem-se.
É um pormenor chato, tão chato como os canadianos ou americanos acharem que somos espanhóis, mas se é preciso viver com isso para continuarmos a ser a capital do Leitão assado à moda da Bairrada, que seja.
Era mais bonito se fosse Mealhada, sempre Mealhada, mas a marca não tem essa notoriedade. É preciso trabalhar nesse sentido, mas sempre com muita cautela para não enxotar os fregueses.

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