segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dexter

Presumo que seja salutar enfrentarmos a nossa própria finitude.
Desde o dia em que nascemos que entramos num processo de degradação que terminará, sem excepção, na nossa morte. Todos iremos um dia morrer: apenas não sabemos como nem quando.
É esse o mistério da vida. É essa a sua maior grandeza.
Alterar o curso da vida é desafiar a própria natureza.
Seja para a prolongar seja para a encurtar, sempre que estamos a modificar o caminho da vida, estamos a demonstrar que somos mais que animais. Estamos a provar que, por um acaso do cosmos, criámos a capacidade de, conscientemente, brincarmos aos deuses. Cria-se um poder de manipulação que fascina.
Poder alterar o que está escrito, mexe-nos com os sentimentos mais profundos.
A morte faz parte da vida e quanto mais cedo tivermos consciência disso, mais prazer tiraremos da nossa existência.
Dexter Morgan é um técnico forense da brigada de homicídios da polícia de Miami.
Desde pequeno que tem tendências homicidas que o padrasto, detective entretanto falecido, conseguiu canalizar para um objectivo menos, digamos, abjecto.
Dexter torna-se um serial killer de toda a especie de escumalha que o sistema judicial não consegue punir convenientemente.
Guia-se por um código (apenas assassinos ou violadores) e por um ritual (paralisa-os com uma injecção no pescoço, envolve-os em película, retira-lhes um pouco de sangue da face que guarda numa lamela, mata-os com uma estocada certeira na aorta, corta os corpos em pedaços e lança-os ao mar).
Dexter é uma série de televisão.
Embora a descrição anterior possa antever argumentos sumarentos, a trama da série passa um pouco ao lado desta pulsão de Dexter Morgan.
Aquilo que mais cativa, aquilo que mais prende ao ecran é que é possível simpatizarmos com um serial killer. A série permite-nos assistir à evolução de uma pessoa que nasceu com um monstro dentro de si e que, pela interacção com o mundo à sua volta, acaba por evoluir a cada episódio no sentido de se tornar mais humano.
A série passa na Fox FX e começa agora em Portugal a sua terceira temporada.
Eu não me contive e já consegui arranjar toda esta terceira temporada que ando a devorar avidamente. E não estou nada arrependido.
Dexter é agora um ser muito mais humano. Tem dúvidas, comete erros, perde a calma. Tudo porque logo no primeiro episódio mata, por acidente, alguém que não se encaixa no seu código: alguém inocente que vai ficar marcado no seu cérebro distorcido e que lhe vai alterar toda a vida.
Uma grande série, uma série de culto para guardar na prateleira das primeiras temporadas de Ficheiros Secretos.

6 comentários:

  1. Olá!
    Mas que surpresa, Pedro!
    As coisas às vezes surgem de onde menos se espera.
    Não conheço o personagem,nem a série.
    Conheço, no entanto, uma verdade eterna e imutável: não é aceitavel o assassínio, seja qual for o pretexto ou a motivação. A alegação de que nasceu com um monstro dentro, não justifica nada.
    E a absolvição, o patético enlevo e quase idolatração por tal indivíduo, deixa-me perplexo...

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  2. Simpatizar com um serial killer? Evoluir a cada episódio no sentido de se tornar mais humano?
    Matando?
    Ora cebolório, Pedro!
    Lá que aprecie uns drinks e uns acepites exóticos, como já aqui confessou, como bon vivant que parece ser, tudo bem, é lá consigo, o fígado, o coração e cada célula do seu corpo, sao seus.
    Mas isto?
    Isto não parece seu!

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  3. Bem, fora toda a psicanálise devida (ou não) ao Pedro Costa, a verdade é que a serie nos faz de facto sentir empatia por alguém que mata, e sente prazer em faze-lo. Não é pioneira essa brincadeira de nos fazer negar e renegar (mais que não seja momentaneamente) alguns princípios que temos incutidos em nos desde o berço (e ainda bem que os temos), basta pensar na lista de filmes e livros que nos fazem “escolher o lado do bandido”. Quanto a esta serie, a ideia é realmente boa, o personagem principal também, só é pena (e uma pena profundamente desmotivante) que o resto do elenco seja terrivelmente mau (daquele terrivelmente mau que ate arde nos olhos).

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  4. A história é o Dexter. O resto são adereços, embora a namorada dele seja jeitosinha.
    Mas isso tambem faz parte do encanto da coisa.
    Os filmes do Tarantino e os do Robert Rodriguez também não têm sumo nenhum e no entanto eu considero-os como cinema de culto.

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  5. Sim, sem dúvida. As vezes basta uma personagem para fazer um grande filme/serie/livro. Mas já que o Dexter foi tão bem conseguido, podiam ter investido mais uns dolarezitos e conseguido uns secundários que soubessem actuar, pois o problema não é das personagens, é dos actores (pelo menos os da primeira temporada, que a segunda e a terceira ainda não tive tempo para ver). A serie merecia.

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