
Quis o destino que nesse mesmo dia tenha o patriarca sido acometido de um AVC que lhe seria fatal um ano e picos depois o que reduziu as apresentações a um primo (entretanto falecido) que também respondia pelo nome de Alexandre.
Fui recebido no Hotel Metrópole no Rossio, hoje um excelente hotel mas à época praticamente um casebre, por um Dr Alexandre visivelmente comovido com a súbita doença do primo que me dirigiu apenas uma frase:
-A sua sorte é vir recomendado pelo senhor Santos. Se não fosse isso, com a sua experiência, nunca o aceitariamos.
Curto e grosso.
Não abri a boca. Limitei-me a pensar com os meus botões que aquele tipo não devia bater bem da bola. Tinha à frente dele um curriculum que dizia que eu tinha terminado o curso há precisamente dois meses, que raio de experiência é que ele queria que eu tivesse. Tinha vontade, tinha sonhos, tinha aspirações. Por algum lado havia de começar, caramba.
Experiência era uma coisa que eu ainda haveria de ter - a seu tempo.
Vinte anos depois, não há experiência que me tenha conseguido preparar, nem a mim nem a ninguém, para o tsunami de acontecimentos que têm varrido o nosso dia a dia.
Hoje, do alto dos meus vinte anos de experiência, interrogo-me se no fim deste ano estarei empregado. Aqui ou em qualquer outro lugar!
A experiência é apenas uma das parcelas da equação.
Alan Greenspan era um homem experiente e levou com a crise imobiliária pelo nariz abaixo sem saber como. Os vários CEO's dos gigantes de Detroit são homens experientes e também não sabem se estarão empregados na próxima semana. O Board of Direction da AIG era composto por homens experientes que ontem eram considerados competentes e hoje praticamente ladrões.
Tudo gente experiente. Tudo gente que falhou, por força das circunstâncias.
A experiência gera habitualmente competência, mas não é sinónimo de competência.
A criação de competências é que será no futuro sinónimo de competência. O assimilar da diversificação é que será sinónimo de competência. A capacidade de adaptação é que será, como dizia Darwin, sinónimo de competência.
Se me perguntarem qual a opinião que tenho de Miguel Felgueiras, provavelmente não utilizarei a palavra experiência porque não tem idade para a poder ter em demasia, não utilizarei a palavra competência porque não o conheço o suficiente para lha reconhecer. Poderei utilizar os termos arrogante e truculento, talvez, e se calhar ambicioso. Três características que só são negativas em certos ambientes.
Se eu acho que daria um bom Presidente da AM? Com o meu voto, se eu puder evitar...
No entanto, estou sempre à espera de ser surpreendido.
Até porque, mesmo com a larguíssima experiência que todos lhe reconhecemos, o actual presidente da AM não evitou que o pé (o seu ou o de terceiros) algumas vezes resvalasse para o chinelo, fazendo por vezes corar os interstícios da formalidade. E a Assembleia Municipal é um orgão formal, engomado.