terça-feira, 31 de março de 2009

Da experiência

Num dos últimos dias de Agosto de 1989, com a minha contratação já apalavrada (vocábulo infelizmente fora de moda) para o Palace Hotel do Bussaco, rumei a Lisboa para ser apresentado à família Alexandre de Almeida.
Quis o destino que nesse mesmo dia tenha o patriarca sido acometido de um AVC que lhe seria fatal um ano e picos depois o que reduziu as apresentações a um primo (entretanto falecido) que também respondia pelo nome de Alexandre.
Fui recebido no Hotel Metrópole no Rossio, hoje um excelente hotel mas à época praticamente um casebre, por um Dr Alexandre visivelmente comovido com a súbita doença do primo que me dirigiu apenas uma frase:
-A sua sorte é vir recomendado pelo senhor Santos. Se não fosse isso, com a sua experiência, nunca o aceitariamos.
Curto e grosso.
Não abri a boca. Limitei-me a pensar com os meus botões que aquele tipo não devia bater bem da bola. Tinha à frente dele um curriculum que dizia que eu tinha terminado o curso há precisamente dois meses, que raio de experiência é que ele queria que eu tivesse. Tinha vontade, tinha sonhos, tinha aspirações. Por algum lado havia de começar, caramba.
Experiência era uma coisa que eu ainda haveria de ter - a seu tempo.
Vinte anos depois, não há experiência que me tenha conseguido preparar, nem a mim nem a ninguém, para o tsunami de acontecimentos que têm varrido o nosso dia a dia.
Hoje, do alto dos meus vinte anos de experiência, interrogo-me se no fim deste ano estarei empregado. Aqui ou em qualquer outro lugar!
A experiência é apenas uma das parcelas da equação.
Alan Greenspan era um homem experiente e levou com a crise imobiliária pelo nariz abaixo sem saber como. Os vários CEO's dos gigantes de Detroit são homens experientes e também não sabem se estarão empregados na próxima semana. O Board of Direction da AIG era composto por homens experientes que ontem eram considerados competentes e hoje praticamente ladrões.
Tudo gente experiente. Tudo gente que falhou, por força das circunstâncias.
A experiência gera habitualmente competência, mas não é sinónimo de competência.
A criação de competências é que será no futuro sinónimo de competência. O assimilar da diversificação é que será sinónimo de competência. A capacidade de adaptação é que será, como dizia Darwin, sinónimo de competência.
Se me perguntarem qual a opinião que tenho de Miguel Felgueiras, provavelmente não utilizarei a palavra experiência porque não tem idade para a poder ter em demasia, não utilizarei a palavra competência porque não o conheço o suficiente para lha reconhecer. Poderei utilizar os termos arrogante e truculento, talvez, e se calhar ambicioso. Três características que só são negativas em certos ambientes.
Se eu acho que daria um bom Presidente da AM? Com o meu voto, se eu puder evitar...
No entanto, estou sempre à espera de ser surpreendido.
Até porque, mesmo com a larguíssima experiência que todos lhe reconhecemos, o actual presidente da AM não evitou que o pé (o seu ou o de terceiros) algumas vezes resvalasse para o chinelo, fazendo por vezes corar os interstícios da formalidade. E a Assembleia Municipal é um orgão formal, engomado.

4 comentários:

  1. Miguel felgueiras não tem perfil para o lugar. O lugar não é executivo. O rapaz até pode ter muitas qualidades e ser melhor do que consegue aparentar. Nas entrevistas é que só mostra arrogância.

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  2. É sempre melhor comprovar as coisas pela experiência do que apenas saber. Porque se se depende da adivinhação ou suposição ou de conjecturas, nunca se fica educado. Há coisas que não podemos descobrir mas nunca perceberemos se são desse tipo se não experimentarmos. Pois é, temos de ser pacientes e perseverar na experiência até compreendermos que não podemos compreender. E é maravilhoso quando assim é, torna o mundo tão interessante. Se não houvesse nada para descobrir seria uma chatice. Só mesmo o tentar descobrir e não conseguir é tão interessante como o tentar descobrir e consegui-lo, se calhar até mais, não sei...

    Miguel Felgueiras já não é nenhum novato nestas andanças e conduzir a Assembleia Municipal é a coisa mais simples que temos na Mealhada. Até o Zé do Bacalhau de Candonga a conduziu, por isso o Miguel Felgueiras vai fazer um figurão.

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  3. Obviamente que considero que o Dr. Mano Soares dará um muito melhor presidente da AM que o Miguel Felgueiras. Nunca o contrário me passou pela cabeça.
    Só não gosto é do raio do preconceito. Falar de experiência à cabeça é sempre um preconceito.
    Toda a vida trabalhei com pessoas mais experientes que eu e dentre essas pessoas tanto encontrei competentes como incompetentes.
    Para mim a experiência é mais um argumento, não é "O" argumento.
    Quando o Gonçalo foi candidato à Câmara pela primeira vez, que experiência tinha?

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