quarta-feira, 4 de março de 2009

Bendito Mediterrâneo


Não fiquei minimamente surpreso com o fim de João Bernardo Vieira. Nem sequer pela forma requintadamente folclórica que foi utilizada para lhe proporcionar esse mesmo fim.
João Bernardo Vieira foi um combatente que não soube evoluir, um pretenso libertador que se deixou enredar pelas teias da corrupção, um tiranete agarrado ao poder que já sabia de antemão como iria acabar. Era só uma questão de tempo.
A Guiné continua a ser a mais instável das nossas ex-colónias, do mesmo modo que foi o mais aterrador dos teatros da nossa guerra colonial.
Um país para o qual infelizmente não se vislumbra grande saída.
A África tem destas particularidades.
Culturas enraízadas no valor da força e da coragem que os colonos europeus tentaram à força democratizar com métodos postiços. Ideologias pífias que apenas serviram para criar enormes diferenças sociais e uma corja de torcionários que se eternizam no poder: são eleitos democráticamente, mas só da primeira vez.
Separa-nos o Mediterrâneo.
O nosso mundo, o mundo civilizado, aquele onde vivemos, vive a anos-luz dessas realidades comezinhas, da barbárie.
No nosso mundo, no mundo civilizado, estamos livres de governantes que roubam o povo de forma desabrida. De pessoas que comem com as mãos!
As democracias ocidentais e o seu fortíssimo sentido de serviço ao povo e para o povo nunca se permitiriam roubar o povo, nunca se permitiriam cobrar quarenta por cento do que cada trabalhador ganha, para sustentar sistemas corruptos, para alimentar clientelas ou para suportar lucros milionários de corporações.
No nosso mundo, no mundo civilizado, jamais nos passaria pela cabeça achar normal que haja vigaristas inimputáveis, jamais permitiriamos que perscrevessem acções judiciais apenas porque o sistema é moroso e incompetente.
A nossa sociedade, construída sobre sólidas bases de solidariedade e fraternidade, jamais se vergaria ao peso da especulação, ao espectro da corrupção.
Felizmente temos o Mediterrâneo a separar-nos.
Felizmente, para alguns, perdemos o hábito de usar catanas.
Vergá-mo-nos ao peso da civilização...

1 comentário:

  1. O Presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira, hoje assassinado na capital guineense, tornou-se no 17 chefe de Estado africano morto nos últimos 60 anos e o primeiro de língua portuguesa.

    Quarenta e seis dirigentes - 17 dos quais africanos - foram assassinados durante os últimos 60 anos, entre os quais o Presidente norte-americano John F. Kennedy e o do Chile Salvador Allende, bem como os reis Faisal da Arábia Saudita e Birendra, do Nepal.

    A maioria dos dirigentes africanos morreu em incidentes registados durante golpes de Estado. O primeiro dos chefes de Estado africano assassinado foi o presidente do Togo, Sylvanus Olympo, a 13 de Janeiro de 1963.

    Desde então, foram mortos também os Presidentes da Somália, Abdel Rashid (1969), de Madagáscar, Richard Ratsimandrava (1975), do Chade, N'garta François Tombalbaye (1975) e da Nigéria, Murtala Ramat Mohamed (1976).

    Os Presidentes do Congo, Harien Ngouabi (1977), da Libéria, William Tolbert (1980), do Egipto, Anwar al Sadat (1981), do Burkina Faso, Thomas Sankara (1987) e das Ilhas Comores, Ahmed Abdala (1989) foram outros dos chefes de Estado assassinados.

    Na década de 1990 foram mortos os Presidentes da Libéria, Samuel Doe (1990), do Burundi, Melchior Ndadaye (1993), do Ruanda, Juvenal Habyarimana (1994), do Burundi, Ciprien Ntaryamira (1994) e do Níger, IBrahim Bare Mainasara (1999).

    No ano 2001 foi assassinado o Presidente da República Democrática do Congo, Laurent Kabila, e hoje o da Guiné-Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira.

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