quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

da liberdade de expressão

Bons tempos, aqueles em que da simplicidade se fazia a vida.
De origem humilde, um carpinteiro pouco dado ao trabalho e uma doméstica pouco dada aos ardores da paixão descobriram que estavam grávidos. Viviam em união de facto que alegadamente ainda não tinha sido consumada.
Depois da relutância inicial, o carpinteiro lá engoliu a história da concepção por meios contranatura, vulgo inseminação artificial.
Um crédulo!
Em data não confirmada e por volta do ano três antes dele próprio, lá nasceu de parto natural um rapagão. Convencionou-se mais tarde que terá sido em vinte e cinco de Dezembro, diz-que por adopção do ritual pagão do solistício de Inverno. Para quem supostamente nasceu com o objectivo de promover a humildade e o despojamento, é estranho ter escolhido logo um feriado para nascer.
A coisa prometia.
Cresceu o moço, sempre às custas da família, com o verbo fácil e um poder argumentativo fora do comum para a época.
Nunca se lhe conheceu ocupação outra que não o lazer e, não contente com isso, ainda arrebanhou um grupo de maduros para lhe seguir as pisadas.
Tudo isto sem Rendimento Social de Inserção nem subsídio de desemprego.
Um feito nesses tempos em que o Estado Social não passava de uma visão de futuro.
Há quem diga que consumia substâncias alucinogéneas que o punham a falar com seres imaginários, mas não há provas disso.
Deixou obra contada por ghost writers, uns anónimos, outros nem tanto.
Escolheu outro feriado para morrer, de forma hoje veementemente condenada pela sociedade, consta que a contas com a justiça aos trinta e três anos.
Terá regressado, crê-se, embora não se saiba bem para quê! Há quem atribua o fenómeno à acção do pai, do verdadeiro, sempre ausente em vida do moço, que tentou emendar a mão, embora tardiamente.
Há quem oriente toda a sua vida com base nos ensinamentos deixados por este jovem que seria hoje talvez um habitante do Bairro da Bela Vista, sobrevivendo de expedientes, quiçá do pequeno furto.
Estranho, é que na actualidade seja precisamente a direita conservadora quem mais admira o seus feitos. A mesma direita conservadora que é apelidada pelos progressistas de intolerante e xenófoba.
Temos o mundo ao contrário.

3 comentários:

  1. Interessante.
    Quase conseguido. Quase.

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  2. O mundo não está ao contrário.
    O contrário é que está a fazer-se passar por mundo.

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  3. Leia o evangelho segundo Jesus cristo Pedro. Na minha opinião o retrato mais fidedigno do que terá sido a vida de Jesus. Jesus trabalhou e arduamente e não teve concerteza vida facil. O seu retrato de uma vida cor de rosa ( tirando as ultimas 24 horas claro) parece-me desfasado do que seria a vida da epoca.

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