segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

do Ronald


Hoje conheci pessoalmente o Ronald McDonald.
Verdade: até me ofereceu uma esferográfica.
Infelizmente tive pudor de pedir para registar o momento em foto.
Nunca me perdoarei.
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Actualmente é difícil explicar a quem não vivieu os tempos do assalto consumista, a loucura que foi comer o primeiro chocolate Nestlé depois de anos a vê-los apenas na publicidade dos livros do Walt Disney editados no Brasil pela editora Abril: o Chokito, o Galak...
Dizer que guardei religiosamente o papel do primeiro Mars que comi pode dar vontade de rir, mas não a quem apenas os via na Pop Rocky ou na Bravo (edição alemã) - comi o primeiro Mars uns bons cinco anos antes de os haver em Portugal.
Quem é que se lembra de que só os filhos dos emigrantes ou quem tinha primos na França ou na Alemanha é que tinha sapatilhas Adidas.
E a Coca-Cola? E a Fanta? Bebi durante anos em Ayamonte no Verão porque por cá não havia. Lembro-me até que a versão em lata da Coca-Cola, da Fanta, da Sprite e da Finley (água tónica) foram lançadas a nível nacional na CIC, ainda na Praça Heróis do Ultramar, num dos primeiros anos da década de oitenta.
E quando o Rui Paulo foi passar as férias de Verão ao Canadá com o pai? Trouxe histórias, um vocabulário enriquecido ("fuck" e "shit" e a sua junção "fuckshit" que ele repetia à exaustão) e um tesouro de valor incalculável: material usado de um McDonalds. Um prazer quase erótico, poder tocar uma embalagem de batatas fritas ainda suja de óleo, vermelha, ostentando galhardamente os "Golden Archs" que faziam as delícias da nossa mais ousada fantasia. Igualzinha às dos filmes.
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É por estas e por outras que facilmente se percebe a onda de saudosismo em relação aos anos oitenta por parte de quem tem hoje à volta de quarenta. Foi uma década de roupa pirosa, de carros que pareciam supositórios, de música... bem, a música safa-se. A música e o cinema. Muito por causa do Indiana Jones, do Back to the Future, do Alien e dos Ghostbusters. E da Samantha Fox...
Foi o ponto de viragem.
A geração que viveu os anos oitenta foi a primeira a interiorizar o mundo num Portugal que apenas meia dúzia de anos antes se dizia "orgulhosamente só".
Estou mesmo arrependido de não ter tirado uma foto com o Ronald McDonald.

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