A nossa grandeza é quase sempre a base da nossa desgraça.
Somos basicamente um povo de pacholas anarcas com facilidade em interiorizar o estranho. Sabemos tomar conta de nós à nossa maneira e a História comprova que desde sempre o fizemos.
O pior é a convivência, as vizinhanças, o mundo, esse mundo imenso a rir-se para nós, a conquistar-nos com promessas de leite e mel. A atiçar-nos o cio..
Portugal é uma casinha de bonecas. Um povoado empurrado contra o mar pela força das circunstâncias.
Vivemos no fio da navalha, com altos e baixos e meios e dores e alívios com avanços e recuos e uma tenacidade épica.
Sempre estrebuchámos ante a adversidade à nossa maneira: com um encolher de ombros ou com barcos apinhados de bravos à conquista de outras paragens.
Raramente fizemos o que de nós esperavam. Raramente caímos, mesmo quando vacilámos. E quando vacilámos e quase caímos, soubemos reunir forças e reerguer a alma.
Por vezes fraternos, mas sempre teimosos e obstinados.
Errados, mas convictos, somos tudo e de tudo e jamais permitiremos que nos domestiquem a raça ou que nos acalmem o peito.
Conseguimos ser bons entre os melhores, relapsos entre os prósperos, pequenos entre os comuns, mas extraordinários entre os descontentes.
Somos únicos na forma e no conteúdo: dificilmente formatados pela vénia. Absorvemos com o desdém de quem sabe não ter que devolver, habitualmente não querer devolver.
E hoje, tal como ontem e provavelmente amanhã, será a desgraça a base da nossa grandeza.
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