terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Treze


Acabei de despir o casaco mais pesado que alguma vez carreguei.
Carreguei-o durante um ano e senti cada dia que com ele andei vestido.
Dois mil e doze foi o meu ano do estupor.
As vértebras da minha alma ficaram irremediavelmente pisadas sob a pressão do peso das pedras que o rancor me foi diariamente colocando nos bolsos.
Transporto comigo marcas que tempo nenhum conseguirá apagar. Foi dois mil e doze que me ensinou a conter a raiva. Uma coisa fria e dolorosa que se instala nos terminais da dor e só passa quando se dá um chuto no balde.
Em dois mil e doze ruiu o único plano que tive na vida. Não foi a vida porque essa não se planeia. Deixa-se empurrar ao sabor dos sonhos e das oportunidades – nunca à força de planos, passo primeiro para o dissabor.
Da minha vida não me queixo. O essencial, tenho-o em dose suficiente e se não me considero feliz é apenas porque não entrego à minha felicidade o protagonismo que ela me quer diariamente exigir. Prefiro apostar na felicidade terceira.
O ano de dois mil e doze foi o ano do estupor para o meu plano de quase vinte anos. Um plano de realização profissional que construí e guardei em caixinhas de suportada resiliência à espera de um dia lhe poder dar a luz do sol.
Ruiu em dois mil e doze.
Hoje não tenho plano. Permiti-me utilizar todo o ano que findou para digerir o estupor – a admiração. Aquela reacção aparvalhada de levar um murro sem contar e olhar em volta à procura do autor.
Hoje, um de Janeiro de dois mil e treze, não tenho plano: tenho a vida. A tal que se deve empurrar ao sabor dos sonhos e das oportunidades.
Nada será como dantes, excepto o quotidiano.

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