sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Questões de fé

(Fotografia de Ansel Adams)

Don Manolo, homem de esquerda e patriarca do filme Belle Epoque de Fernando Trueba que arrebatou em 1993 o Oscar para o melhor filme estrangeiro, assumia a sua impotência perante as três instituições mais reaccionárias da sociedade: o casamento, o exército e a igreja.
E explicava a sua revolta: o casamento porque mesmo depois de separado só conseguia consumar o acto copulatório com a ex mulher o que o impedia de ser infiel, o exército porque ao ser considerado inapto lhe foi vedada a possibilidade de desertar e a igreja porque fora baptizado antes de ter vontade própria e é sabido que o baptismo deixa uma marca a todos os níveis indelével e por isso irreversível.
Tirando a questão da "ex-mulher" que é assunto do foro privado, em tudo o resto me identifico com Don Manolo. Felizmente não tive que conhecer por dentro a instituição militar (que respeito, mas que considero dever ser apenas para profissionais) e cultivo por inércia uma relação de um intermitente e higiénico distanciamento em relação à instituição igreja. Sou baptizado, comunguei e fui até escuteiro, mas tenho ainda uma visão da vida que me permite por enquanto relegar para segundo plano assuntos de fé por troca com assuntos mais terrenos, quiçá pecaminosos. Presumo que a Luz me advirá com a idade.
François Miterrand, homem de fé apenas terrena, obteve-a (à Luz) pouco antes de morrer como pude constatar num conjunto de conversas que manteve com Elie Wiesel (Nobel da Paz), editadas no livro Memória a duas vozes.
Parto pois do princípio que, se Miterrand conseguiu encontrar a Luz, porque obscura razão me poderá, a seu tempo, ser vedado tal desígnio?
No entretanto permito-me questionar algumas coisas que por vezes me assolam a solidão dos dias mais pachorrentos. E ontem deparei-me com uma. Apenas mais uma.
Porque razão pretende Bento XVI, cidadão alemão, ressuscitar a ideia de beatificar Pio XII, cidadão italiano, precisamente o papa que pontificou durante a Segunda Guerra Mundial e cujo silêncio acerca do holocausto (de que foi contemporâneo) continua a ser encarado por muitos como, no mínimo, cúmplice?
Não me parece prudente. Será fé ou falta de fé?

1 comentário:

  1. Exmo Senhor Presidente
    da Câmara Municipal de Mealhada
    Professor Carlos Alberto da Costa Cabral




    Sendo assíduo leitor do JN, não pude deixar de verificar um anúncio de oferta de emprego da V. Digníssima Câmara Municipal para dois assistentes administrativos, com contrato resolutivo certo pelo prazo de um ano, renovável até ao limite previsto na lei. Mencionava, também, o referido concurso que os mesmos dois administrativos, deverão (e agora pasme-se!) possuir o 12º ano de escolaridade, mas dando V. Exa. prioridade a quem, embora só possua o 12º ano, mas já detenha conhecimentos do programa GIB (Gestão Integrada de Bibliotecas) e experiência em dinamização de leitura em Bibliotecas Públicas!
    A primeira pergunta que me assaltou ao pensamento foi se houve equivoco neste seu anúncio. e se se referiria a dois Técnicos de BAD (biblioteca, arquivo e documentação) em vez dos dois assistentes administrativos.


    Pensei de imediato: será que estes dois lugares já tenham destino "certo" para duas licenciadas que se encontram a recibo verde na dita Biblioteca de V. Exa. e que não possuem esta formação, e este seja o único modo de as colocar a contrato?


    Afinal, são ambas licenciadas (e pasme-se uma vez mais), possuem experiência na referida área! E continue a pasmar-se , quando descobri que uma dessas referidas senhoras até é familiar da sua Vice Presidente!


    Depois pensei com muito mais clareza e paz de espírito e percebi que o senhor jamais poderia deixar tal situação acontecer, até porque sei que prima pela justiça, honestidade e seriedade. Concerteza que deve haver algum equívoco no meio disto tudo.


    Desde já agradecendo pela atenção que se dignou a dispensar a este atento cidadão


    Sem outro assunto, despeço-me com a mais elevada consideração e estima

    ResponderEliminar