sexta-feira, 3 de julho de 2009

A vida pelos cornos


Uma vez li numa porta de casa de banho de um parque de campismo a seguinte frase: “Portugal é um país pequenino com gente à sua medida”.
Para quem não teve na vida direito a este salutar encontro com a cultura, informo que, ao contrário das portas de WC de café ou de shopping center onde só pululam obscenidades e ofertas de trabalho promíscuo, nas casas de banho dos parques de campismo era usual (falo no passado porque ultimamente não as tenho frequentado) lerem-se verdadeiras pérolas da filosofia existencial.
Assisti ontem, estupefacto, à novela tauromáquica que se gerou em torno do gesto de Manuel Pinho e confesso o meu desapontamento: estou farto deste país!
As nossas autoproclamadas elites alojam no seu seio um verdadeiro bando de pilha-galinhas, engomadinhos até à medula, que se dão ao desfrute de poder cometer as maiores ilegalidades enquanto escudados nas imunidades que para seu bel-prazer criaram.
Quando aparece um outsider que demonstra um bocadinho mais de vivacidade, tendem a reduzi-lo à insignificância. Apontam-no a dedo e, se cometer a ousadia de demonstrar que pertence ao “povo”, gozam-no até se arrepender de ter nascido.
O povo pode ser roubado, espoliado, gozado, vilipendiado, trucidado e desrespeitado, mas eles, os engomadinhos, não têm sequer estaleca para resolver pessoalmente os problemas que entre si criam.
Neste caso dos cornos, ficámos inclusivamente sem saber quem era o portador: se o próprio se Bernardino Soares.
O gesto foi ambíguo!
Se um dia fosse possível expurgar a nossa vida pública de todos os momentos verdadeiramente inúteis, dos diálogos à base do “xôtor” e do “xôrenginheiro” e das lambidelas de botas e das facadas nas contas e dos sapos engolidos e dos golpes de rins e das conversas idiotas e da falta de objectividade discursiva e das caras de peido que não sai…
Se um dia tudo isso desaparecesse, talvez o país fosse a algum lado.
Ficámos pelo menos a saber que na Assembleia da República, utilizar linguagem gestual é justa causa de despedimento.
E tirar macacos do nariz?

3 comentários:

  1. E ler a Bola durante o plenário?

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  2. O exemplo deve vir de cima.
    E na casa da democracia cometem-se muitos excessos, tanto na linguagem, bem nos gestos e este foi demais. É só pena o que se falou, debateu no plenário não tenha sobrado nada e no que me apercebi foi uma boa sessão com bons momentos de política. Mas, como não podia deixar de ser, nada foi mais importante que o gesto desprezível dos corninhos.
    Isto teve importância, até porque fez "cair" ministro que por sinal sempre cometeu muitas gafes, foi muitas das vezes bombo da festa para a oposição e não só, mas eu digo e muitos entendidos seja da esquerda ou direita dizem também que sempre foi um homem esforçado, lutador e deixou obra feita, as energias renováveis terão sempre o seu cunho na história, agora o homem tem jeito, ideias e sabe inovar, por isso tinha Basílio Horta a seu lado, agora acho que não está é "talhado" para a política, e foi aí que ele perdeu e o país também.
    Isto porquê? Porque a maior parte dos políticos são bons actores, talvez por isso sejam bons (alguns) políticos, ou bem-sucedidos, olhe-se para o Alberto João Jardim, Santana Lopes, Manuel Alegre, Francisco Louçã, Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, isto para não falar de mais uns tantos em que a classe de actor por vezes não é conciliada com a força de trabalho em prol da causa comum...
    Essa tão nobre causa por quem todos nós nos devíamos abraçar.
    Essa causa que tantas vezes é invocada por outro bom actor da nossa política Paulo PORTAS, esse tão nobre senhor trabalhador o homem mais bem preparado em todas as áreas da vida, só não digo mais porque senão choro por termos se calhar o único HOMEM capaz de "endireitar" todo este Portugal Profundo, e não só se for poliglota talvez o mundo é o homem perfeito, supera OBAMA mas de longe, isto até porque o Paulo gosta de distância dos Pretos e outros como tal, mas isso é só tique...e pronto acabei o meu relato aos cornos que o Pinho fez ao Bernardino o apologista da Coreia do norte só podia merecer...

    Um abraço Pedro.

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