quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Chicos-espertos

Foi apresentado esta semana um estudo europeu que chega à brilhante conclusão de que os estudantes, independentemente de credo, raça ou sexo, se limitam a retirar da internet os trabalhos que lhes são pedidos, muitas das vezes recorrendo a traduções automáticas.
Infelizmente só os autores do estudo é que não conheciam o fantástico reino do "copy-paste".
A dada altura também me deixei enredar por estes artefactos e acabei a coleccionar algumas peças de antologia. Herdei desses tempos a expressão "Mundo Guerra Dois", tradução livre do inglês "World War ll", ainda no tempo em que a culpa de tudo isto não era da Dra Maria de Lurdes Rodrigues.
Desde textos pouco mais que ilegíveis à invenção de novas expressões ou de novas construções gramaticais, tudo se consegue apanhar. Coisas tão aberrantes, às vezes, que só demonstram que os "autores" dos trabalhos nem sequer se dignaram lê-los antes de os entregar.
Num esforço para dar algum crédito à coisa, houve quem passasse a exigir aos meninos a indicação da bibliografia consultada. Pura perca de tempo, excepto se considerarmos como bibliografia os termos "internet", "google" ou "yahoo".
Houve ainda quem se desse ao trabalho de exigir a apresentação dos trabalhos em forma manuscrita. Como brilhante resultado, dão efectivamente mais trabalho a quem os faz, mas dão MUITO mais trabalho a quem os lê. E tudo para se descobrir no final que não passam de transcrições de textos retirados da net.
Conheço esta realidade há perto de 10 anos, portanto não estou espantado.
O que realmente começa a tomar proporções alarmantes é o vício ter passado para o outro lado da barricada.
Ultimamente, tenho assinado testes do meu filho cujo enunciado não é mais que uma fotocópia de uma página de um qualquer livro de fichas acessível a qualquer pessoa ou um teste retirado da net de um daqueles sites das editoras de livros escolares.
Os alunos, ao serem artolas, vivaços ou até piratas, estão a dar largas à sua condição de garotos: cumpre a quem os educa, indicar-lhes o melhor caminho.
Os professores, ao adoptarem comportamentos semelhantes, estão a ser relapsos, malandros e incompetentes.
E com isso premeia-se a espertalhice em detrimento do esforço.

4 comentários:

  1. É o resultado visível do Magalhães, o que é que queres?
    A tão celebrada promoção das Novas Tecnologias pelo nosso 1º e seu brilhantíssimo governo, tem destes efeitos colaterais.
    Dir-me-ás que isto, como dizes, já começou há mais de 10 anos.
    Mais uma razão para que tivessem muito mais cuidado com a Propaganda.
    Se já havia predisposições para a fraude, a dita Propaganda só a estimula e promove.
    Não são apenas os Profs que são relapsos, malandros e incompetentes.

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  2. Não me parece.
    Acho que o resultado do Magalhães ou de outra coisa qualquer semelhante se irá ver no futuro. E penso que será um bom resultado.
    O problema aqui é um problema de mentalidade.
    Ao adoptarem este tipo de comportamentos, os professores lançam mensagens aos alunos. Dizem-lhes, mesmo sem querer, que o caminho a seguir é o do facilitismo.
    Mesmo tendo em conta que estão a passar um mau bocado, os professores nunca se podem esquecer que são um modelo para os seus alunos. Se abandalharem agora, quando as coisas se recompuserem (e vão recompor-se, é tudo uma questão de tempo) será então muito mais difícil repor a normalidade.

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  3. Mas não digas "os professores", Pedro!
    Poderias dizer "alguns maus professores", que tambem os há, como há péssimos gerentes de hotel.

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  4. Claro.
    Nem outra coisa me passaria pela cabeça.
    Estou a falar dos professores que, neste caso, têm precisamente os mesmos comportamentos que criticam nos alunos.

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