
Será que os objectos sentem?
Às vezes penso que sim.
E nós? O que sentimos nós pelos objectos?
Eu sinto respeito por um carro que se cruze por mim na estrada e que mostre trinta ou quarenta anos de fieis e dedicados serviços. Sinto carinho por um sofá com cinquenta anos, daqueles com a pele estalada, com uma cova no sítio onde tantas vezes se sentou, se calhar, a mesma pessoa. E por uma caneta que se mantenha fiel ao dono desde que o padrinho lha deu no dia da comunhão solene? O que se deve sentir? E por um relógio que brilha orgulhosamente no pulso do neto do primeiro proprietário - "E não se atrasa um segundo; é só dar corda..."
É esta afeição que hoje nos falta. O mundo está descontrolado e nunca precisou tanto de valores como neste preciso momento. São os valores, e a afeição é para mim um valor, que nos agarram à realidade, que nos norteiam o percurso, que nos diferenciam.
Quando tudo faltar, que sejam os nossos valores os escolhos onde podemos aconchegar a consciência.
Eu cultivo e respeito os meus valores. Por vezes menos visíveis, encobertos pelo manto da ironia, às vezes pelo da própria idiotice, que também a tenho, mas sempre presentes. Se calhar algumas vezes envergonhados pelo abandono a que temporariamente os possa votar, mas sempre presentes.
Se nos podemos afeiçoar a algo menos tangível que um cadeirão velho? Claro que podemos. Se nos podemos afeiçoar a um arrazoado de letras, dispostas com alguma ordem, umas vezes com mais sentido que outras? Claro que podemos.
E por isso esta contrição.
Eu afeiçoei-me ao chacomporradas. Ao fluir de algumas ideias, que também as tem, à sua pequena anarquia, aos altos e baixos do seu percurso, aos pontapés na gramática que por vezes lá despontam. Não o sabia, mas afeiçoei-me.
Traí o chacomporradas. Troquei-o, apesar de momentaneamente por um punhado de frases soltas e por um prazer imediato. Plumas, lantejoulas e facas na liga toldaram-me a escrita e a busca do verbo fácil, da piada seca, da resposta imediata, criaram-me na boca o sabor do ter em desprimor do prazer do ser.
Voltei, pá!
Agradeço a quem me criticou pelo abandono. À minha cunhada que me esfregou na cara o desprezo dos abandonados, ao meu filho que somente se lamentava, não tendo a noção da traição que eu quotidianamente sustentava.
Voltei, pá!
E desta vez não te vou abandonar.
Será que os objectos sentem?
Os objectos, não sei, mas o blogues, começo a crer que sim!
E eu já fui tão feliz por aqui...
Atentamente
Pedro Costa
PS-Vou continuar a transladar alguns textos para o Facebook. Os melhores. Este vai...
Às vezes penso que sim.
E nós? O que sentimos nós pelos objectos?
Eu sinto respeito por um carro que se cruze por mim na estrada e que mostre trinta ou quarenta anos de fieis e dedicados serviços. Sinto carinho por um sofá com cinquenta anos, daqueles com a pele estalada, com uma cova no sítio onde tantas vezes se sentou, se calhar, a mesma pessoa. E por uma caneta que se mantenha fiel ao dono desde que o padrinho lha deu no dia da comunhão solene? O que se deve sentir? E por um relógio que brilha orgulhosamente no pulso do neto do primeiro proprietário - "E não se atrasa um segundo; é só dar corda..."
É esta afeição que hoje nos falta. O mundo está descontrolado e nunca precisou tanto de valores como neste preciso momento. São os valores, e a afeição é para mim um valor, que nos agarram à realidade, que nos norteiam o percurso, que nos diferenciam.
Quando tudo faltar, que sejam os nossos valores os escolhos onde podemos aconchegar a consciência.
Eu cultivo e respeito os meus valores. Por vezes menos visíveis, encobertos pelo manto da ironia, às vezes pelo da própria idiotice, que também a tenho, mas sempre presentes. Se calhar algumas vezes envergonhados pelo abandono a que temporariamente os possa votar, mas sempre presentes.
Se nos podemos afeiçoar a algo menos tangível que um cadeirão velho? Claro que podemos. Se nos podemos afeiçoar a um arrazoado de letras, dispostas com alguma ordem, umas vezes com mais sentido que outras? Claro que podemos.
E por isso esta contrição.
Eu afeiçoei-me ao chacomporradas. Ao fluir de algumas ideias, que também as tem, à sua pequena anarquia, aos altos e baixos do seu percurso, aos pontapés na gramática que por vezes lá despontam. Não o sabia, mas afeiçoei-me.
Traí o chacomporradas. Troquei-o, apesar de momentaneamente por um punhado de frases soltas e por um prazer imediato. Plumas, lantejoulas e facas na liga toldaram-me a escrita e a busca do verbo fácil, da piada seca, da resposta imediata, criaram-me na boca o sabor do ter em desprimor do prazer do ser.
Voltei, pá!
Agradeço a quem me criticou pelo abandono. À minha cunhada que me esfregou na cara o desprezo dos abandonados, ao meu filho que somente se lamentava, não tendo a noção da traição que eu quotidianamente sustentava.
Voltei, pá!
E desta vez não te vou abandonar.
Será que os objectos sentem?
Os objectos, não sei, mas o blogues, começo a crer que sim!
E eu já fui tão feliz por aqui...
Atentamente
Pedro Costa
PS-Vou continuar a transladar alguns textos para o Facebook. Os melhores. Este vai...
Bem haja, meu amigo!
ResponderEliminarAbraço!
Ufa!
ResponderEliminarAté que enfim!
Estranhei a ausência, consegui descobrir as tuas novas paragens, e com esta "falta de movimento" por aqui já pensava que ias fechar a casa e obrigar-me a inscrever no facebook. :P
O meu muito obrigada aos que ajudaram a convencer-te a voltar!
Vou continuar deste lado.
Beijinhos
O Facebooh é o assassino dos Blogues.
ResponderEliminarPerdão, Facebook!
ResponderEliminarEste é que é o assassino!
Viva!
ResponderEliminarPor vezes uma pausa ajuda a aclarar muita coisa, inclusivé sentimentos.
Provavelmente não escrevias estas linhas se não tivesses feito um "intervalo", Abandono dizes tu.
Abraço e até breve