domingo, 23 de maio de 2010

do socorro


Ontem morreram em Portugal quatro pessoas afogadas, muito provavelmente cinco. Não o deveriam ter feito porque a época balnear ainda não começou. Isto apesar do calor.
Como habitualmente, procuram-se os culpados porque é sempre preciso apontar o dedo a alguém sobre quem se possa descarregar a responsabilidade.
Há razões de sobra para se ter cuidado quando penetramos num meio que nos é adverso como é o caso da água, mesmo com nadadores-salvadores, helicópteros, motas de água, bandeiras e avisos.
Mesmo nesse pressuposto, alguém tem que zelar por aquilo que habitualmente não zelamos - a nossa própria vida. Mas isso daria para escrever uma tese de doutoramento e não é esse o meu objectivo.
Limito-me a fazer uma pergunta: quantas pessoas precisarão de morrer mais, para se perceber que esta é uma matéria que tem que ser integralmente assumida pelo Estado. Ninguém vê particulares a controlarem o trânsito de modo a evitar acidentes, ninguém vê particulares a administrarem a justiça evitando que nos matemos uns aos outros, ninguém vê particulares a patrulharem as ruas para podermos dormir descansados.
Mesmo com o Estado a formar os nadadores-salvadores, não se pode entregar aos concessionários dos apoios de praia a responsabilidade de zelarem pela integridade dos frequentadores da área da sua concessão. Não é esse o seu campo de trabalho. Não pode nem deve ser.
Os infelizes queixam-se, ano após ano, que têm dificuldade em contratar, que o número de horas de "funcionamento" da praia é superior ao horário de trabalho permitido por lei, que não conseguem suportar os custos.
Mesmo defendendo que o Estado precisa de emagrecer, e eu defendo-o, existem coisas que nunca poderão deixar a alçada do Estado. A segurança é uma delas.
Que se entregue esse trabalho à Marinha, que se acabe com essa aberração chamada "época balnear" mantendo a vigilância durante todo o ano, que se adapte a vigilância às reais necessidades, que se crie uma mais efectiva rede de comunicação de modo a permitir uma melhor e mais efectiva gestão dos meios.
Se os concessionários devem ajudar a pagar tudo isto? Claro, sob a forma de uma taxa que não lhes ponha em causa a viabilidade do negócio. Se as autarquias com praia devem ajudar a pagar isto? Claro, pois também usufruem das vantagens.
Não digo que seja fácil coordenar tantas vontades e tantos egos. Mas alguém tem que começar.

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