domingo, 31 de outubro de 2010

dos conceitos


Todos nascemos conservadores. Quem já teve filhos ou já lidou com bebés, sabe que a maneira mais fácil de ter uma criança sossegada é não lhe mexer com as rotinas. Os pediatras aconselham os pais a criar hábitos nos filhos desde que nascem: hábitos certos e rotineiros. Dizem os livros que estes estruturam a personalidade.
Com o crescimento, todos temos muito tempo para deixar de ser conservadores.
Ou não.
Independentemente das liberdades individuais e da possibilidade de cada um poder ser o que quiser, a verdade é que existem povos que facilmente poderão ser rotulados. Os nórdicos são progressistas e libertários, os do sul são maioritáriamente desprendidos e desorganizados, os orientais metódicos e extremamente pacientes, os latinos ardentes e dados ao laxismo...
O povo mais conservador do mundo é precisamente o povo que menos razão teria para o ser. É o povo que todos os dias inventa coisas novas suficientemente arrebatadoras para fazerem esquecer o ontem.
E não existe no mundo um povo que tantas tradições (próprias - poucas - e apropriadas de outrém) que tantas tradições tenha transformado em festa. Festa e negócio, compreenda-se. E cada vez mais à escala mundial. É fantástico.
Se vasculharmos o baú da memória, facilmente descobriremos que os americanos apenas exportaram um produto em toda a sua história: a Coca Cola.
O que desde cedo exportaram e continuam a exportar com um sucesso arrasador não são produtos, são conceitos. E nisso são imbatíveis.
Quando a América necessitou de motivação, criou o rei dos conceitos: o sonho.
Os conceitos espalham-se de forma natural - basta serem apelativos. E a América sabe como ser apelativa.
Se não fosse o esforço dos americanos, dificilmente festejaríamos ainda o Natal, passaríamos pelo Dia dos Namorados sem o ver, desconheceríamos o Halloween...
Hollywood assenta num produto inventado pelos franceses, os hamburgueres foram inventados na Alemanha, as próprias pizzas sairam da Itália e entraram na Europa através da América, mas isso não tem qualquer importância perante quem lhes deu roupas brilhantes e glamour.
Ao contrário das tradições que, de velhas e imutáveis nos obrigam a adaptar, os conceitos (e muitos nascem das tradições) formaram-se para vir ao nosso encontro.
Neste particular, e reafirmo-o para não entrar em polémicas, neste particular, se não fosse a América, o nosso dia a dia seria ainda mais enfadonho.
Que tal lembrar-mo-nos disso hoje quando, em nome de uma tradição irlandesa a que a América acrescentou mundo, convivermos com os nossos semelhantes entre bruxas, caveiras e abóboras sorridentes.
   

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