sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pedro e o lobo

Encheram-nos os ouvidos com a pandemia que se avizinhava trazida pelos ventos do Inverno e pela passarada.
Enfiaram-nos pela casa dentro imagens de patos mortos por uma peste sinistra em lagos cada vez mais próximos da nossa porta.
Formataram-nos o cérebro com alertas acerca de sintomas.
Aconselharam-nos uma ida ao serviço de urgência mal caisse o primeiro pingo do nariz.
Avançaram números com imensos zeros que seriam os da nossa desgraça caso o tal H5N1 conseguisse imiscuir-se na pacatez dos nossos resfriados.
Assustaram-nos.
A gripe veio este ano mais afoita que o costume.
E que fizemos nós?
Simplesmente o que nos mandaram.
Correspondemos com esforçado ânimo aos pedidos de colaboração para conter a pandemia.
Os serviços de urgência (os que ainda existem) entupiram-se de ranho.
Tempos de espera que chegaram a extremos de vinte horas levaram-nos rapidamente a agradecer à Santa por esta ainda não ser a gripe das aves.
Os responsáveis da saúde, os mesmos que nos mandaram correr para as urgências logo ao primeiro sinal, apressaram-se a esfarrapar desculpas e a aconselhar o que sempre se aconselhou em situações semelhantes: abafos e caldos de galinha.
Atreveram-se ainda a criticar o alarmismo e a precipitação da populaça.
Continuamos sem saber se houve excesso de zelo na prevenção ou falta dele na resposta.
Ninguém importante deste país se deu ainda ao trabalho de tentar explicar como é que se pode esperar durante vinte horas numa sala de espera de uma urgência, mesmo depois de implementado o fabuloso e testadíssimo método de Manchester.
Como simulacro, correu muito mal.
Infelizmente correrá precisamente da mesma maneira quando for a sério.
Com resultados mais funestos, suspeita-se!
Ou será que estão à espera que depois de tanta propaganda ao bicharoco, alguém se atreva alguma vez mais a ficar em casa a comer caldos de arroz sabendo que pode ser portador de um virús com capacidade para matar milhões de pessoas.

1 comentário:

  1. O juiz já sentenciou no verdade das cinco. Para o bem da Mealhada tomou posição sobre vários intervenientes da vida mealhadense!...

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