quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A surfar na terceira vaga


Estamos a desmaterializar-nos.
Desmaterialização é a palavra chave para a mais radical evolução que a nossa sociedade está a sofrer - demore uma década ou demore um século, far-se-á!
Diz quem sabe e quem sabe é Alvin Toffler (vénia) que de vez em quando regressa para nos mostrar as frinchas das portas para o futuro.
Depois do "Choque do Futuro" que nos anos setenta descrevia ao pormenor as futuras batalhas entre os limites do Homem enquanto ente biológico e o caminhar avassalador da tecnologia cujo limite seria a degeneração.
Depois do excitante "A Terceira Vaga" (respeitosa vénia) que acertou quatro em cada cinco das previsões que em 1980 fez acerca da nossa cada vez mais actual (deliciosa) interacção com o mundo digital por oposição a uma sociedade meramente industrial, cinzenta, povoado de seres acéfalos, rotinados, ordeiramente motivados para cumprir objectivos e prazos.
Depois das doutrinas apresenta o conceito.
A desmaterialização, expressão brilhante que resume um mundo que se quer mais justo, mais equitativo, mais equilibrado e mais bonito, nasce da vontade e da experiência do dia a dia.
Não há por aqui tecnologias à solta.
Há simplesmente a prossecução da felicidade, uma felicidade plenamente conseguida à custa do desfrute do corpo e do espírito que temos relegado para segundíssimo plano enquanto construímos uma carreira que sustenta toda a colecção de porcarias que (julgamos nós) nos ajudam a criar uma imagem de sucesso para consumo externo e a alimentar uma fome de posse que fomos formatados para ter.
Esta desconstrução de todos os excessos é natural, apenas forçada pelo facto de, a determinada altura da nossa existência descobrirmos (e assumirmos sem complexos) que há simplesmente vida para além da nossa vidinha diária e mesmo para além da nossa vidaça sonhada!
O mundo digital tirou-nos a necessidade das colecções, a noção de posse, de acervo activo a preservar.
Tudo interligado, complementado, integrado... um universo de criação que antes requeria conhecimentos científicos e equipamentos caríssimos cabe agora no mais pequeno dos nossos bolsos.
Um mundo virtual que se materializa com custos cada vez mais acessíveis.
O valor como alavanca e não como objectivo.
A noção de basta-me contra a noção de preciso.
A primeira porta já aí está e abre-se, escancara-se, ante os nossos olhos.
A felicidade está ali ao virar da esquina: pura, simples, sensorial, legítima.
A sociedade desmaterializada está em marcha.
Que pena eu tenho de neste momento não saber se ainda aqui estarei daqui a um século!

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