segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Da sabedoria


Se podes conservar o bom senso e a calma
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu.
Se podes crer em ti com toda a força da alma
Quando ninguém te crê. Se vais faminto e nu
Trilhando sem revolta um rumo solitário.
Se à torpe intolerância, se à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão.
Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor.
Se podes esperar sem fatigar a esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho,
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho.
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores!
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo ao amor dos teus amores.
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu!... jamais lhe deste!
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio para construir de novo.
Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo já afogado em crepúsculos
Só exista a vontade a comandar – Avante!
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre,
Se vivendo entre os reis conservas a humildade
Se inimigo ou amigo, poderoso ou pobre,
São iguais para ti à luz da eternidade.
Se quem conta contigo encontra mais que a conta,
Se podes empregar os sessenta segundos
De cada minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos.
Então, ao ser sublime o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os templos, os espaços,
Mas ainda para além um novo sol rompeu
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu filho... Então serás um HOMEM!

Joseph Rudyard Kipling - IF

10 comentários:

  1. O Miranda Ferreira regressou das férias cortou logo os comentários do Milhas...

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  2. E sobre este magnífico poema de Kipling, não tem opinião?
    Se o acha muito denso, pode sempre tentar ler o Livro da Selva, do mesmo autor. É mais acessível.
    Bem haja por visitar este espaço.

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  3. Gosto de leituras mais modestas... Tipo Milha de Caligula e os seus comments.

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  4. A Milha tem textos com bastante qualidade.
    Os comentários é que às vezes são fraquitos, mas V. Exa. deve saber aquilo a que me refiro.

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  5. Os textos também podiam ser melhorzitos..................

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  6. "Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de facto mais se revelam novos, inesperados, inéditos. É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo. "

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  7. "O Livro da Jângal" foi originalmente escrito em dois volumes entre 1894 e 1895. É a publicação mais conhecida de Rudyard Kipling e traz uma série de histórias, sendo o personagem principal o "Mowgli - Menino Lobo".

    Outros contos de aventuras igualmente famosos são "Os Irmãos de Mowgli" e o "Avanço da Jângal".

    Mowgli é um garoto criado por lobos e que vive na selva. O garoto cresce aprendendo os segredos da selva com seus amigos Kaa, a serpente, Bagheera, a pantera, entre outros animais.

    O autor imortalizou em sua história os animais da floresta de Seouni, localizada no Leste da Índia e, hoje, é protegida pelo governo do país.

    O livro foi adaptado diversas vezes ao cinema, mas as versões mais conhecidas são de André Toth, em 1942 e de Walt Disney, em 1960.

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  8. Para perceberes que sou um anónimo culto fiz a tradução do poema para Inglês. E prometo que amanhã será em Alemão. No fim de semana em Chinês.
    If you can keep your head when all about you
    Are losing theirs and blaming it on you;
    If you can trust yourself when all men doubt you,
    But make allowance for their doubting too;
    If you can wait and not be tired by waiting,
    Or, being lied about, don't deal in lies,
    Or, being hated, don't give way to hating,
    And yet don't look too good, nor talk too wise;
    If you can dream - and not make dreams your master;
    If you can think - and not make thoughts your aim;
    If you can meet with triumph and disaster
    And treat those two imposters just the same;
    If you can bear to hear the truth you've spoken
    Twisted by knaves to make a trap for fools,
    Or watch the things you gave your life to broken,
    And stoop and build 'em up with wornout tools;
    If you can make one heap of all your winnings
    And risk it on one turn of pitch-and-toss,
    And lose, and start again at your beginnings
    And never breath a word about your loss;
    If you can force your heart and nerve and sinew
    To serve your turn long after they are gone,
    And so hold on when there is nothing in you
    Except the Will which says to them: "Hold on";
    If you can talk with crowds and keep your virtue,
    Or walk with kings - nor lose the common touch;
    If neither foes nor loving friends can hurt you;
    If all men count with you, but none too much;
    If you can fill the unforgiving minute
    With sixty seconds' worth of distance run -
    Yours is the Earth and everything that's in it,
    And - which is more - you'll be a Man my son!

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  9. O poema original é em Inglês.
    De qualquer maneira, sinto-me honrado por tê-lo entre os meus leitores.
    Volte sempre.
    E leia, porque ler faz bem.

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  10. Meu caro Pedro, se há para mim uma oração ou mantra (o que quiser)será, sem qualquer dúvida, este poema, que há anos recito a mim mesma e ofereço aos amigos. E mesmo que seja do Kipling, a tradução(que é sempre uma reescrita) do Félix Bermudes é absolutamente brilhante. Para quem não conheça, aconselho a declamação deste poema pelo Villaret, declamação essa que me deu a conhecer este poema e me deixou em transe na altura.

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