quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Politicamente incorrecto

O mundo só é viável se tiver ricos com dinheiro para gastar e pobres para trabalhar. Todas as teorias económicas que tentaram provar o contrário ficaram-se por isso mesmo, teorias, ou, postas em prática, tiveram os resultados que todos conhecemos.
É uma realidade crua e injusta, mas a única que tem permitido a sobrevivência da civilização.
Existem muitas formas de atenuar esta realidade, mas nenhuma estratégia que a substitua com sucesso.
Outra verdade ainda mais cruel aos olhos do ser humano digno desse nome é a de que os ricos não gostam dos pobres. Dão-lhes trabalho, ajudam-nos dentro de certos parâmetros, permitem-lhes algumas aproximações mas, no fundo, não gostam deles.
Os ricos gostam é dos pobrezinhos, que é uma coisa totalmente diferente. Os pobrezinhos entregam brilho aos ricos, alargam o tal buraco da agulha por onde eles, os ricos, terão que passar, logo a seguir ao camelo, se quiserem entrar no céu.
Enquanto os pobres (nos quais eu me incluo) apenas querem ter oportunidade de ganhar a sua independência, sustentar o livre arbitrio e de manter o seu lugar na cadeia alimentar, os pobrezinhos permitem aos ricos o exercício da caridade.
Para os ricos, existe apenas uma característica obrigatória comum a todos os pobrezinhos: a distância. Nada afasta mais o dinheiro do que a presença de quem não o tem. É endémico.
Sabendo tudo isto e usando de todo o pragmatismo que a situação exige, aplaudo a coragem de Ana Salazar quando pôs a mão na ferida em relação à recuperação do Chiado: ou lojas de grandes marcas ou mendigos sentados no chão. As duas coisas juntas acabarão por se inviabilizar.
Sem ricos para gastar dinheiro, não há quem queira o trabalho dos pobres que assim acabarão por se transformar em pobrezinhos.


7 comentários:

  1. é de doidos este palhaço pensa que é...burro de certeza!

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  2. Obrigado.
    Já começava a ficar um bocadinho enjoado com tanta adulação.
    Pena é que tenha insultado duas instituições só para me tentar destratar. Os palhaços que são uma respeitabilíssima classe profissional e os burros que são uma espécie protegida. Há no vernáculo português imensos adjectivos que fariam esse trabalho com perfeição sem ser necessário recorrer a terceiros inocentes.
    Quanto ao texto, eu também não concordo com ele, mas é uma leitura da realidade.
    E, infelizmente, a realidade tem mais tristezas que alegrias.

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  3. Perdoa-lhes, Pedro, que eles não sabem o que dizem. Quanto mais perceber o que tu escreves!

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  4. Caro Pedro, esqueceu-se dos doidos/loucos que, tal como os mendigos que a Ana Salazar quer afastar das lojas das grandes marcas, são muito mais toleráveis quando não "nos" aparecem à frente. Ainda que não tenha compreendido se os mendigos são pobres ou "coitadinhos-vamos-fazer-um-chá-com-as-amigas-para-comprar-uns-sapatos-para-esconder-estes-pés-sujos", o seu post - e não a Ana Salazar - é que coloca o dedo na ferida e nos mostra o quão terceiro mundo ainda somos, não por haver mendigos, claro está, mas por Anas Salazares estarem preocupadas por eles não ficarem bem na fotografia. Parabéns pela sua sensibilidade e, sem adulações, por este seu espaço.

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  5. Eu gosto de gente inteligente. Como eu gosto de gente inteligente.

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