quinta-feira, 24 de junho de 2010

da Melanina


Há um jornal de Durban que tem hoje quatro páginas escritas em português.
Uma singela mas sincera e sentida homenagem, segundo a directora do jornal.
Registámos o gesto.
O local onde irá ter lugar aquele que poderá ser o jogo mais aguardado desta fase do campeonato do mundo de futebol, foi invadido por hordas de imigrantes portugueses e turistas brasileiros.
À falta de outro expediente, foi precisamente um imigrante português (em Durban há trinta anos) quem traduziu essas quatro páginas, inicialmente escritas em inglês.
O tradutor improvisado adiantou que este gesto dos sul africanos não apareceu apenas porque o jogo de amanhã será integralmente falado em português. Existe uma razão mais profunda para esta simpatia pela lusofonia.
Uma razão histórica que, como tantas outras na nossa História, nos coloca uma centelha de emoção no olhar e um fundamentado orgulho no coração.
Foram os portugueses os primeiros, em pleno regime de "apartheid", a permitir negros nas suas equipas de futebol. Primeiros e únicos durante bastante tempo. E esse tratamento igualitário e justo calou fundo nos locais.
Para mim, este campeonato do mundo já está ganho.
Não pretendo com isto branquear um passado racista e esclavagista que é realmente o nosso, mas tão somente perceber mais uma das inúmeras idiossincrasias que compõem o nosso ADN.
Tenho um amigo que nasceu e viveu parte da sua vida em Moçambique e que me deu um dia um exemplo interessante da maneira de ser dos portugueses. Disse-me ele, nunca negando a condição de colonizador, que a grande diferença entre os portugueses e os ingleses (também colonizadores em Moçambique) se resumia a isto: os portugueses tratavam os locais por tu, às vezes de forma até injuriosa, mas comiam com eles à mesa e cresciam a brincar com eles como iguais enquanto que os ingleses os tratavam de forma educada, chamavam-nos pelo nome, mas essa era a única intimidade que permitiam.
Sintomático.

3 comentários:

  1. Interessante e até filosófica a observação do "seu" amigo...!!!
    Mas quem estará mais correcto? Os ingleses (povo com uma cultura tradicionalmente adquirida, mas um tanto fria e desprovida de manifestação de sentimentos), ou os portugueses, mais calorosos, receptivos, mas tantas vezes sintomáticos?
    Será esta uma questão dogmática, ou tão sòmente a forma, educação e cultura de um povo?
    Pessoalmente opino sobre a forma como cada um foi educado, não invalidando a hipótese de todos se sentarem è mesma mesa e consoante o grau de afinidade e/ou amizade comum, adoptarem uma linguagem consonante: "a linguagem da amizade" - Natural e verdadeira como o"eu" de cada um.

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  2. Muito bacana este texto.Parabéns pra Africa,seria bom que os nossos irmãos Brasileiros, não todos é claro mas uma grande minoria,pensassem assim também.Eles dizem que se o Brasil tivesse sido descoberto pelos inglêses,(não seria este um País tão cheio de ladrões) Já que foram os Portugueses que trouxeram a escória pra cá(os escravos)

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  3. Ainda por cima são burros.
    Juntar escravos e ladrões na mesma frase é ofensivo.

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