segunda-feira, 14 de junho de 2010

do Povo

Ontem dei por mim a meditar depois de ouvir um médico no Câmara Clara (RTP 2) a falar acerca do povo.
Antes tinha ouvido da boca da Paula Moura Pinheiro a definição que Jerónimo de Sousa forneceu de "povo" e, apesar de ele achar que só quem trabalha por conta de outrém e ganha pouco é que tem o direito de pertencer ao povo, não me surpreendi. Jerónimo de Sousa, a avaliar pelas suas palavras, obviamente que não pertence ao povo e como tal reconheço que terá um distanciamento maior que o meu para poder definir de modo mais rigoroso algo que para mim se limitaria a um mero "povo somos todos nós, sem excepção".
Mas voltemos ao tal médico que a dada altura, e entre muitas considerações que sinceramente achei sensatas e lógicas, se sai com uma tirada que rezava mais ou menos o seguinte: "As pessoas agora apresentam-se mais frequentemente nas consultas privadas porque algumas empresas incluem seguros de saúde nas regalias dos funcionários. A maior parte dessas pessoas não teriam dinheiro para o fazer se não fosse o seguro, mas mesmo assim reclamam imenso. Mais que aquelas que vão ao médico privado e pagam do seu bolso".
A minha primeira reacção foi achar que o senhor estava a ser pedante, confesso.
Mas depois ponderei, limpei a situação, procurei ver para além do óbvio, tentei estabelecer um paralelo com a minha actividade. E acabei por lhe reconhecer uma pontinha de razão.
De facto, os portugueses demonstram estar a perder o respeito por quem serve. Pé ante pé tem-se instalado no nosso povo um misto de arrogância e petulância que não tínhamos e que em nada nos engrandece. Reclamamos pelas coisas pequenas mas calamo-nos perante as grandes injustiças. Desprezamos o que achamos menos qualificado, temos vergonha de demonstrar respeito.
Nós não éramos assim.
Hoje fui jantar ao McDonalds e, como sempre faço, no fim peguei nos tabuleiros da familia e fui despejar o lixo como qualquer utente de qualquer McDonalds por esse mundo fora. Olhei à volta e a esmagadora maioria das mesas vazias tinha tabuleiros abandonados com lixo em cima. Era hora de ponta e a funcionária da limpeza tentava em vão pôr alguma ordem no caos. Devemos ser o único povo no mundo que age assim.
E o povo, repito, o povo somos todos nós, sem excepção.

1 comentário:

  1. É tudo uma questão de ética...

    A este propósito relembrei uma publicação do blogue racaambigua1.blogspot.com, editada em 27 de Abril do ano em curso, com o título "O pacote de biscoitos".

    Parabéns pelo blogue.

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