domingo, 14 de abril de 2024

do Nada


Ontem esteve calor.
Hoje, menos, mas ainda vai estar.
Amanhã já vai parecer novamente Primavera.
Sempre houve dias de Verão enfiados no Inverno e dias de Inverno enfiados no Verão, mas isto é diferente. Isto cheira a fim do mundo. Isto não é uma massa de ar quente que estacionou à nossa porta, igual a tantas massas de ar quente, ou frio, que o fizeram antes. Isto mexe connosco de uma forma diferente, porque a ciência nos diz que isto é diferente e o nosso cérebro não nos deixa descansar quando o que está em jogo é o fim do mundo. O nosso, porque o mundo já está habituado a ter gelo e fogo e nuvens e água e silêncio e barulho e vento e plantas feias que não precisavam de ser bonitas e plantas que se fizeram bonitas para sobreviver. 
Raio de metáfora, o fim do mundo, quando o mundo, queremos acreditar, somos nós.
Não somos. 
Mas se não conseguimos interiorizar que antes de cada um nascer era um nada ainda mais nada que quem morre porque nem memória carrega, porquê achar que, sem cada um de nós, o todo é menos todo? 
O verde da erva fica verde no tom que quer e as folhas, castanhas, quando lhes acaba a utilidade e isso é uma concessão à luz, isso é a vida a fazer o seu caminho, indiferente aos nossos remoques existenciais, demorando o seu tempo, o culto da indiferença que nos deixa tão incomodados.
Somos nada, mas esse nada é a nossa razão de existir.

  



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