domingo, 5 de maio de 2024

do peixe do rico e do peixe do pobre




No hotel, comíamos muitas vezes red fish. Cozido, nem tanto, frito em fatias finas com limão, acompanhado de arroz de tomate e, o meu preferido, assado no forno com batata à padeiro e salada de alface.
Um peixe mal amado, que as pessoas desprezam apenas porque sim.
O red fish é o exemplo acabado de como o preço final não deriva da dificuldade da obtenção do bem, mas tão somente da procura pelo mercado. É barato porque é mal amado, não é barato por saltar do mar para dentro das traineiras, que não salta.
Hoje almoçámos red fish aqui em casa. Congelado, do Lidl, a 4,89€ o quilo, já sem cabeça e amanhado. Estivesse ele inteiro e o preço rondaria os 3,60€ (a cabeça e as tripas a pesarem 25% do peixe) por quilo: pouco mais de metade do preço de venda da sardinha, a avaliar pelo que ouvi nos noticiários.
Dois rabos de peixe que custaram 3,92€ no total, alimentaram três adultos e ainda sobrou uma porção mais que suficiente para voltar a alimentar um deles hoje ao jantar ou amanhã ao almoço, que cá por casa nada se estraga. 
Foi a segunda vez que comemos red fish cá em casa. Não fazia parte do menu, como nunca fez quando vivia com os meus pais. Posso afiançar que, pelo menos a minha mãe, morreu sem alguma vez ter comido red fish.
O red fish tem uma posta firme que lasca como a do cherne ou, para conhecedores, como a do achigã, uma camada de gordura natural (não há red fish de viveiro) que evita que os lombos fiquem secos e permite tirar com facilidade a pele e tem um sabor delicado, embora presente. Sal é suficiente.
Fiz no crisp do micro ondas (uma airfrier, mas em bom). Primeiro uma cebolada com pimentão, alho e azeite, também no crisp (5 minutos), depois as batatas temperadas com sal, tomilho, alho e pimentão e os peixes por cima de tudo, apenas esfregados com sal marinho a Figueira da Foz. Dez minutos no crisp, virar o peixe e mais quinze minutos para terminar.
Ainda me lembro de quando os pescadores de Mira ofereciam na areia as cavalas que, ao engano, entravam na rede. Hoje come-se cavala nos restaurantes Michelin. E nem estou a falar no rascasso que ninguém comia e hoje é iguaria cara nem no tamboril que, há cinquenta anos, era devolvido ao mar.
O red fish não almeja chegar à mesa dos ricos, mas é uma pena que mesmo os pobres o desprezem. Se calhar mais que alguns ricos: eu só o comia no serviço e o meu patrão comia-o em casa.  
Consta que estufado em molho de caril é do katano!


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